No cetim do meu corpo
atraquei as barcas do regresso
para me não doer
qualquer ausência, qualquer exílio.
Nele guardei o novelo
luminoso dos sentidos,
à flor de cada gesto
e me arrostei de melodias
e de cor, com fios invisíveis
ajeitados ao legado
da época que me coube.
Manipulei o espaço para dialogar
com a música a impiedade
da guerra e do caos.
Para diluir o absurdo inscrito
nos olhares de toda a gente.
Graça Pires
De Jogo sensual no chão do peito, 2020, p. 48