Ana Pires Livramento
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira
In: Cancioneiro de Natal, 1971
Quem desejar ouvir o poema com a voz e a música do Pedro e ver o vídeo da Ana pode fazê-lo aqui:
https://youtu.be/0uskE-5TLeo