31.3.18

Convite - ANTOLOGIA POÉTICA

A Festa foi linda. Obrigada a todas e a todos que participaram nesta Antologia. É um orgulho fazer parte dela.


Minhas Amigas e meus Amigos: tenho a certeza que vão gostar dos poemas destes autores. Apareçam!!!

Podem também adquirir a Antologia em pré-venda (com desconto) até à data de lançamento (ver canto superior direito deste blogue)

26.3.18

Mulher sentada

Amedeo Modigliani


Quero morar no silêncio perfeito
aguardado pelas aves migradoras 
para voarem até um lugar sem sombras.

Há muitos mundos fui mulher ungida
com o sangue e o leite de minha mãe,
raiz onde se prendeu o meu nome.

Preparo, agora, com gestos minuciosos
uma evasão fortuita,
enquanto me enceno nos espelhos.

Quero que me circulem no sangue os rios todos
inundando a boca seca: quase vento, quase sal.

Graça Pires
De Fui quase todas as mulheres de Modigliani, 2017, p. 41

21.3.18

A Poesia é um fogo sagrado


Steve Thoms

Naquela noite eu só procurava um lugar para morrer.
Havia o cume da montanha tão perto das estrelas
e da liturgia dos sons. Havia um xaile de lã.
Uma casa caiada de gemidos. Uma mulher.
Para quê improvisar o pretexto da morte
se guardava já, delineado no olhar,
um puríssimo lago a antecipar o dia,
o primeiro, quase, em que as palavras
tinham a inteira claridade das manhãs?
Mergulho no dia como em mar ou seda,
repetia, a mim mesmo, sem parar.
A Poesia é um fogo sagrado a iluminar a vida!

Graça Pires
In: As vozes de Isaque: derivações poéticas a partir da obra “O último poeta”, de Paulo M. Morais. Braga: Poética, 2016, p. 17

12.3.18

Em seara alheia



Amáveis comodidades

Vem viver comigo,
estou cansado do na tua ou na minha casa,
com hora de ponta e portagens pelo meio.
Para mais deixei morrer as plantas, 
dá-me pena a solidão do gato,
o teu colchão é péssimo para as minhas costas,
a água do teu chuveiro sai sem pressão,
não tens espaço suficiente para os meus livros,
só pagávamos uma factura de luz,
podíamos ter um cão
e fazer um filho.
Eu gostava de ver crescer um filho contigo.

Raquel Serejo Martins
In: Subúrbios de Veneza. Desenhos de Ana Cristina Dias.  Braga: Poética, 2017, p.24

5.3.18

Georges van Muyden

Amedeo Modigliani


Dizem que as mulheres
não devem ter opinião.
Ergo a cabeça ao insulto,
com os lábios atravessados de ironia. 

Nada expressam os meus olhos,
porque os povoei de enigmas
para subverter afirmações sem nexo.
Golpeio preconceitos: o golpe e a chaga
no mesmo esmagamento debelados. 


Uma agitação no contorno do decote
rasgou-me, nas entranhas,
até ao sangramento, um exílio
onde acoitei inconfidências e prazeres. 


É precavido o vagar da minha voz
a silenciar a posse das palavras.

Graça Pires
De Fui quase todas as mulheres de Modigliani, 2017, p.15