Sobre o esguio molde de minhas pernas
acoitei o ritmo imprevisto de todos os rumores.
Com elas soergui o corpo até ficar íntima do chão.
Sobre elas me suspendi em movimentos
leves, sensuais, clandestinos quase.
Para não ruir.
Para aprisionar os ventos.
Para silenciar os medos.
Os habituais saberes do bailado
não me pertenceram nunca.
Preferi imitar o desassossego da natureza
como se uma incompleta dança
me nascesse nos ossos
até se esvair, entreaberta,
no mais fulgurante cansaço.
Graça Pires
De Jogo sensual no chão do peito, 2020, p. 20
Se alguém quiser, pode ouvir o poema pode fazê-lo aqui:
https://youtu.be/bXRCgYDb7bg