Ana Pires Livramento
retomo o monólogo em linguagem
dispersa vinculada à emoção.
Há lembranças embutidas nas pedras
cobertas de musgo que assinalam
esconderijos improváveis onde aceito ser,
duplamente, a silhueta de um corpo
e o barro inquieto por dentro dos sonhos.
Amarro os pulsos nas árvores em flor
para atrair os insectos e os pássaros,
com a urgência do verão no tear das seduções.
Imprudentes, as mãos deixam-se doer
escondidas nas sombras
com os dedos curvos de cansaço.
Protagonista do meu destino,
não cesso de nascer,
acendida no sangue das manhãs.
Graça Pires
De Antígona passou por aqui, 2021, p.76