Há um rumor nesta distância,
um ardil com que tinjo as palavras
em armadilhas que vibram
mas não protegem. Há um porto,
deserto e húmido, como todos os portos
quando não estás, e há também um mapa,
um antiquíssimo mapa sem litorais
nem margens, onde eu refaço
esta insuportável sede de ti
comigo a desenhar ilhas no outro lado
do tempo. Há ainda - ou parece
haver - uma ponte... uma passagem
ameaçada - e tudo isto, tudo, porque
há um rumor nesta distância.
Victor Oliveira Mateus
In: Gente dois Reinos. Fafe: Labirinto, 2013, p. 25