Magdalena Russocka
Um punhal certeiro como um aviso
atinge o dia tombado
sobre o melindre das folhas no outono.
Na duração das noites, há árvores estéreis
que naufragam com a chuva
e deixam um alagado eco sobre a terra.
A água escorre entre o alinhamento regular
das oliveiras que aguardam o frio
nos lugares onde a paisagem
é um campo sem lavoura,
sem searas, sem celeiros.
Lugares onde se recolhem as formigas
e a nostalgia das sementes.
Lugares onde os beirais ficam vazios
e, na cintura das mulheres,
se quebram as lanças da paixão.
Sinto em mim a ressonância calada da terra.
Capto os sons do vento abraçando
as árvores como um queixume.
Graça Pires
De Antígona passou por aqui, 2021, p. 46