28.5.17

Anna com vestido preto


Obrigada a todas as Amigas e Amigos pelo caloroso acolhimento no Porto. 
Foi linda a Festa!

Amedeo Modigliani

Pouso devagar as minhas mãos
habituadas à luxúria dos gestos
e sento-me, imperturbável,
no meu sofá preferido.

Possuo nas costas de cada mão
um risco de contágio de sinais nocturnos
oxidados no reflexo de vultos antigos
que me açoitam o olhar.
Acolho o silêncio até à nesga de luz
que ilumina a esquiva linha de uma sombra
suspensa na pureza da noite.

Se me perguntarem o que faço aqui,
nesta serenidade mordaz, eu direi:
é um ritual diário, este, de me vestir
de negro para ver findar o dia.

Até agora nenhum crepúsculo
me deixou indiferente.
Mas a noite, essa, já começa
a pesar-me sobre o peito.

Graça Pires
De Fui quase todas as mulheres de Modigliani, 2017

Espero que as minhas amigas e os meus amigos que moram mais a norte, estejam comigo no Porto, no dia 2 de Junho, na Livraria Unicepe, às 18.30h. Obrigada.

15.5.17

Fui quase todas as mulheres de Modigliani - convites

Foi uma festa linda! Obrigada a todos os que a partilharam comigo. Obrigada também aos que quiseram estar e não puderam. Agora conto com os meus amigos do Norte para o dia 2 de Junho



Gostava de contar com a presença de todas as minhas amigas e de todos os meus amigos que moram em Lisboa ou por perto. 
A 2 de Junho estarei no Porto.
Em data a confirmar estarei na Feira do Livro de Braga.
Fico à espera de toda a gente para fazer a festa com mais este meu livro. 
A vossa presença justifica o meu lugar na Poesia...

6.5.17

Digo Mãe. Digo Filha

Menez

Para a minha Filha Ana no dia da Mãe
Floresceram as cerejeiras no lento tempo do pólen.
E vieram as abelhas, e as primeiras cerejas,
e o puríssimo mel.
Veio também o mês de maio
e, com ele, a trémula ondulação das palavras.
Digo mãe. Digo filha.
Palavras ajustadas à inquieta harmonia do sangue.
Palavras que se tocam como rios
da mesma nascente inundados,
pela mesma sede procurados.
Palavras que se dizem, que se calam,
que se questionam, que se entrelaçam.
Onde estás, mãe?
Tem cuidado contigo, filha!

Graça Pires, 2017

1.5.17

Em lugares desabrigados

Dorothea Lange

Cravo as unhas na carne da indiferença.
Escrevo sangue
com o lápis gasto pela culpa acorrentada
à cegueira que desfoca os olhares
na bastardia dos abraços.
Digo fome
com os dentes colados à secura dos trigais
e às sobras rapadas nas latas do lixo.
Leio dor. Dolorosamente.
Em lugares desabrigados,
em portas franqueadas aos rasgões
da vida rondada pela morte.

Graça Pires
De Uma claridade que cega, 2015