25.2.10

Tiro a máscara

Rudolph Tegner

À queima-roupa, tiro a máscara
com que me desfiguro e transfiguro.
Desenho na cara o mirante
donde se avista a via-sacra das quimeras.
Transmuto o medo
e projecto na alma um pássaro solto,
volúvel e imprevisível como um rio.
Construo, no meu peito, o vaso baptismal
onde a minha orfandade se redime.


Graça Pires
De Labirintos, 1997

18.2.10

Diz o que quiseres

Marta López Vilar


Quando a imensidade das sombras
se acercar de mim promete que dirás
que fui com as aves matinais
pernoitar à boca das marés em busca
do sulco da lua pelas noites dentro.
Diz as coisas mais banais.
O que quiseres. Diz.
Nunca te faltam as palavras
para enganar as sombras.


Graça Pires
De O silêncio: lugar habitado, 2009