20.12.20

Interação Fraterna de Natal 2020

A convite da Amiga Rosélia Bezerra aqui deixo a minha participação nesta fraterna interação de Natal.



Que se descubram palavras 
com asas de aves translúcidas 
para dizer, não o voo, não as penas, não as sombras, 
mas a infinita simplicidade do instante 
em que a noite se inunda de estrelas. 
E que todas as estrelas tenham o nome das pessoas 
que amam a luz e o rumor dos anjos, 
neste Natal que trespassa 
a nossa frágil humanidade. 

Ao silêncio que guardamos no coração

juntemos um cântico de Alegria. 

Porque amamos a Paz. Porque desejamos Vida.

 

Um Natal cheio de conforto. 

Um ano de 2021 com Saúde e Amor.


Até para o ano. Fiquem bem. 

14.12.20

Memórias de Isadora I



Aceito. 
Deliberadamente aceito 
reencontrar-me comigo.

Em confusa harmonia, 
começa por meu olhar 
a urgência inaugural do reencontro. 

Um precavido silêncio ajusta a luz 
ao ritual mais virgem da memória. 

Não recuso o cerco. 
Dou ao tempo o jogo de quem vence. 

Abro devagar a seda de meus véus para 
desvendar o mel e o sangue dos sentidos, 
que a vida e a morte consentiram.

Graça Pires
De Jogo sensual no chão do peito, 2020, p. 15

7.12.20

Em seara alheia



A Queda Oca no Silêncio 

Ignoro a vida 
das coisas quando 
o olhar me dói, 
apressada que vou 
para chegar a tempo 
do nascimento das sombras. 
Cantam e esvoaçam os pássaros, 
espreguiçam-se no verde as ondas 
ou adormece o mar, cansado 
de incestuosos arremessos 
na inocência da areia? 
Não sei. 
Ai, como queria permanecer 
no meu lado de dentro 
sempre que de ti me ausento, 
abeto sem mácula, 
poema, 
casa à beira das chuvas 
de amoras no silvado. 
Explica-me a queda oca 
no silêncio provável do nada. 
Como é o grito da árvore?

Lília Tavares
In: A timidez das árvores. Modocromia, 2020, p. 66. Col. Mãos de Semear. Livros Lília Tavares, v. 1