31.1.07

Um novelo de rimas imperfeitas

Bea Danckaert

De rosto em rosto, a caligrafia do amor
implorou a memória das palavras encantadas
e, como se houvesse uma linguagem
de atravessar o tempo, acenderam,
sobre os dias, constelações sonoras.
Mas eu, que não adiro aos calendários,
nem acredito em vogais prometidas,
eu parti, de punhos febris,
enlaçando nos braços
um futuro marginal a qualquer lógica.
A posse da noite, onde me quero lua
em todas as fases, leva-me a glosar os medos
num novelo de rimas imperfeitas.
A cidade tem pombas
que me perseguem sem eu dar por isso.
Tenho um aqueduto modelado nos olhos
e um dilúvio vermelho no desenho do peito.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

30.1.07

Em silêncio

Manuel Alvarez Bravo

Em silêncio, sempre em silêncio,
as mulheres refazem o penteado,
que as mãos forasteiras
da noite desmancharam.
É a hora do romper do dia.
A cor da madrugada
quase que dói por dentro da pele.
E não fora a urdidura de mágoas
antigas, elas dariam, à paisagem,
o nome de um deus solar.


Graça Pires
De Quando as estevas entraram no poema, 2005

29.1.07

Em seara alheia



Estendo o braço até tocar
a sombra da tarde
- não quero outro exercício
enquanto fragmento de poema –
e é provável que as flores azuis,
que não sei identificar na berma
da estrada, amanhã já lá não
estejam, tão frágil é o meu
entendimento do mundo.
Sandra CostaIn: A Vocação dos Homens Silenciosos. Maia : Cosmorama, 2006

28.1.07

Entre um rosto e um nome

Stephen Alvarez


Entre um rosto e um nome
há bandos de pássaros em ascensão.
Exagero, quase sempre, a morfologia da noite,
no olhar mais que perfeito dos que têm no sangue
o país secreto das paixões.
Coexisto com a vertigem
de tocar a metamorfose da realidade visível.
Dou-lhe a forma de um tempo
que virá configurar o espaço iluminado do silêncio
e exorcizar a intimidade das palavras.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

27.1.07

A matriz sazonal da minha sombra

Steve Hanks

Intimidam-me os vestígios de inscrições,
citando o futuro, no muro da fatalidade.
Nos meus ombros há um campanário
de ironias invocando, desde que nasci,
os símbolos da imaginação.
A lápis de cor, desenho uma ilha,
onde me aprisiono até que amanheça.
Nas sobrancelhas do prazer,
construo um umbral à altura das emoções
e deixo que me coagulem na cintura
todas as formas de paixão.
Recapitulo, assim, a matriz sazonal
da minha sombra.


Graça Pires
De Labirintos, 1997

26.1.07

Detenho-me à porta de um parágrafo

Paul Strand


Detenho-me, à porta de um parágrafo,
como aprendiz de enredos.
Sou a personagem que teme a sua morte
ancorada na última página.
As letras, afiadas como lanças impiedosas,
são a única referência nómada
de uma cadeia de vocábulos no labirinto do texto,
onde soletro a intimidade de tudo o que amei.

Graça Pires
De Labirintos, 1997

25.1.07

Inverno

Robert Adams


A persistência da chuva catalogada
por quem nada sabe de paixões.

O vento e o silêncio emboscados
no mesmo rumor nocturno.

A diáspora de aves migratórias
a encher os dias de presságios.


Graça Pires
De Ortografia do olhar, 1996

24.1.07

De tanto chamamento

Alfredo Cunha


Caminho de encontro ao entardecer,
com a língua salgada de incendiar
a paisagem de quantos verões
me couberam na boca.
A curva do meu riso indicia o sul da mágoa.
Tenho um barco tatuado nos ossos
e os braços, quase enfermos,
de tanto chamamento.
No próximo verão, hei-de vestir-me de branco,
para que os veleiros avistem a solidão do meu olhar.


Graça Pires
De Uma certa forma de errância, 2003

23.1.07

Não desvies os olhos

Manuel Fazenda Lourenço

Não desvies os olhos: vejo neles a nossa casa,
virada a nascente, recolhendo a imprecisa luz
do amanhecer.
Deixa-me pintar, nas paredes, o canto
das andorinhas, que nos atravessam os dias
em pleno verão, ou, diz-me tu, o silêncio
das cigarras ao final da tarde.


Graça Pires
De Quando as estevas entraram no poema, 2005

22.1.07

O chamamento da lua

Rolfe Horn

A norte da tristeza, deixo a memória
a meia haste, fazendo o luto
de futuros desencantos.
E entro pela noite: ilha de sonhos exilados,
onde me torno o único sobrevivente
de um enredo imaginário.
Tenho estrelas marinhas
fossilizadas nos pés,
promissores de aventuras.
Quando o mar se enfurece,
o meu cabelo ondula, devagar,
como quem maneja mal os equívocos,
ou tem uma pressentida alegria
a latejar no corpo.
Perturbante, é o silêncio
que se ergue a sul dos navios,
quando os peixes adivinham
o chamamento da lua.

Graça Pires
De Reino da lua, 2002

21.1.07

Em seara alheia



Fito-os porque se transformam. Eu estou
no atalho entre ondas. Apenas paro.
Não serei volúvel, de modo a despedir-me de símbolos de mar

e de terra. Estarei adormecida, atenta a ambos.
Tudo o que me corte ou se movimente como esse
alumínio de seres marinhos me faz arder do seu ardor.

Antecessores que modelaram as gáveas abandonaram-nas.
Fragas que desconheço. A minha contemplação estática
perante o mar. Desde o nascimento, sempre com a nau fixa
e o céu ocre, ondas que sobre mim se entrecruzavam.
A minha persistência no litoral. Ignoro, mas contemplo.
Fiama Hasse Pais Brandão
In: Novas visões do passado, Lisboa: Assírio e Alvim 1975

18.1.07

A alegria

Edward Hopper

A alegria :
gastei-a à procura
de argumentos para ser feliz.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

17.1.07

Hoje basta-me um muro de barro

Claude Simon


Hoje, basta-me um muro de barro,
para derrubar nele o som da minha voz.
Não sei se é de musgo ou de lodo,
o rumor matinal do meu rosto,
a reflectir a noite, longa de sossego,
por onde passou a luz sem me pressentir.
Neste instante pouco importa a vertigem do corpo.
O lado azul da vertente é a minha obsessão
e sinto os lábios porosos, como um chão térreo,
à doçura espessa dos morangos.
Eu sou o lugar onde, inadvertidamente, me refugio.
No fundo das ruas que percorro existe, agora,
a linha transversal do meu poema branco,
e posso ver a limpidez total do perfume
que as madressilvas entornam no ar,
quando roçam os cabelos das crianças.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

16.1.07

Entardecer

Stephen Alvarez


O ocaso retém o mar
por onde os olhos emigram,
sem bagagem, para lugares
onde a curva da luz dissimula
a treva, clandestinamente.
É perigoso pintar nas pedras
o direito e o avesso dos desejos.
Há seduções escondidas no vértice
da tarde, ardendo em fogo lento.
Caminhemos pela cintura do assombro,
até ao marginal pretexto de um grito
de alerta quase absoluto, que acordará,
nas costas da noite, bandos e bandos
de aves luminosas.


Graça Pires
De Ortografia do olhar, 1996

15.1.07

Em seara alheia



NOÉ

Pronto, pronto, eu faço. Dá um trabalhão
mas faço. Corto madeira, arranjo pregos,
gasto o martelo. E o pior também:
correr o mundo a recolher os bichos,
coisas de nada como formigas magras,
e os outros, os grandes, os que mordem
e rugem. Eu sei lá quantos são!
Em que assados me pões. Tu
gastaste seis dias, e eu nunca mais acabo.
Andar por essse mundo, a pé enxuto ainda,
a escolher os melhores, os de melhor saúde,
que o mundo que tu queres não há-de nascer torto.
Um por um, e por uma, é claro, é aos pares
- o espaço que isso ocupa.

Mas não é ser carpinteiro,
não é ser caminheiro,
não é ser marinheiro o que mais me inquieta.
Não é poder esquecer
a pulga, o ornitorrinco.
O que mais me inquieta, Senhor,
é não ter a certeza,
ou mais ter a certeza de não valer a pena,
é partir já vencido para outro mundo igual.
Pedro Tamen
In: Analogia e Dedos. Lisboa: Oceanos, 2006

14.1.07

A pão nos sabem as palavras

Duarte Belo


A pão nos sabem as palavras,
quando a brisa do sul nos roça a cara.
Seguro, nas duas mãos, as tuas mãos
e sob o peito (o teu, o meu), alastram ramos
transparentes, que sustêm, na casa,
a trave-mestra, como se a raiz
de cada árvore nos amarrasse,
as veias, ao destino comum do coração.


Graça Pires
De Quando as estevas entraram no poema, 2005

13.1.07

A minha rua desce para o Tejo

Carlos Botelho



A minha rua desce para o Tejo.
Não é simbologia.
Há o rosto nítido dos barcos
na continuidade das pedras.
Em qualquer ponto se define
uma constelação entre proas.
Da janela avalio a inutilidade das âncoras.
Por isso, incluo no poema a escada irreversível
onde alieno os meus passos.
Confirmo a legibilidade da chuva,
ou da água oculta na concavidade dos olhos,
e nomeio o estremecimento das mãos
como um paradigma de amor.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

12.1.07

Dantes, pelos caminhos

Manuel Alvarez Bravo


Quando a noite renova a planura
das sombras sobre a terra, os cães
ladram à palidez da lua, fustigados
pelo ranger das portas.
Dantes, pelos caminhos,
havia pessoas apressadas,
de regresso às casas, agora desertas
e as mulheres chamavam os filhos
com a mesma voz com que rogavam
pragas à miséria.


Graça Pires
De Quando as estevas entraram no poema, 2005

11.1.07

Teseu não quis morrer



Teseu não quis morrer.
O seu olhar respirou sangue
sobre a garganta do touro.
O seu corpo era tão jovem
que confundiu a face da deusa da beleza.
E ela esvoaçou nua dentro do seu peito.


Graça Pires
De Labirintos, 1997

10.1.07

À boca das areias

Robert J. Ford

À boca das areias, ardem quilhas insuspeitas.
Uma tempestade amotina-me o brilho do olhar.
A cidade inunda-se de barcos e, dentro de mim,
pernoita um marinheiro comprometido
com marés desmedidas.
Podia esquecer-te para sempre,
não fora a vertigem da tua sombra
a cercar os meus olhos.

Graça Pires
De Uma certa forma de errância, 2003

9.1.07

Para preparar o inverno

Alfredo Cunha


Distingo, desde menina, as palavras
consumidas na voz das mulheres,
cúmplices de silenciosas madrugadas.
Conheço-lhes o circular gesto de disfarçar
desejos com astúcia, quando o destino
lhes antecipa um enredo desabrido:
a morder na boca, a arranhar nas unhas,
a queimar na pele.
Esquecem, então, deliberadamente,
os sonhos intranquilos e passam
a levantar-se antes do sol nascer:
para preparar o inverno, pensa toda a gente.

Graça Pires
De Reino da lua, 2002

8.1.07

Em seara alheia



A presença mais pura
Nada do mundo mais próximo
mas aqueles a quem negamos a palavra
o amor, certas enfermidades, a presença mais pura
ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
«a que distância da língua comum deixaste
o teu coração?»

a altura desesperada do azul
no teu retrato de adolescente há centenas de anos
a extinção dos lírios no jardim municipal
o mar desta baía em ruínas ou se quiseres
os sacos do supermercado que se expandem na gaveta
as conversas ainda surpreendentemente escolares
soletradas em família
a fadiga da corrida domingueira pela mata
as senhas da lavandaria com um ‘não esquecer’ fixado
o terror que temos
de certos encontros de acaso
porque deixamos de saber dos outros
coisas tão elementares
o próprio nome

ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
«a que distância deixaste
o coração?»

José Tolentino de Mendonça
In: Baldios. Lisboa : Assírio & Alvim, 1999

7.1.07

Indecifráveis sinais



Manchado de sal, o silêncio escorre-me na cara.
Os meus olhos tropeçam em raízes antigas
e movem-se-me, na memória, indecifráveis sinais:
marcas de nascimento, lugares e pessoas, gestos
e palavras. É madrugada. Os pássaros evitam
os voos rasantes, porque as últimas sombras
da noite lhes ferem as pupilas.


Graça Pires
De Uma certa forma de errância, 2003

6.1.07

Onde está o cavalo pintado no teu peito?





Pergunto por ti, com raízes
de erva-doce presas nos dentes.
Colecciono espelhos,

à procura da tua imagem,
ou da minha identidade.
Onde está o cavalo pintado no teu peito,
em que galopei até ao epicentro

da cumplicidade?
Depois, um passáro hesitou nos teus dedos
e eu fechei as mãos

à lentidão de asas entreabertas.
Agora, entrelaço enigmas na garganta,
como um hábito acumulado

na espessura do tempo.
Pelo meu rosto correm gotas de água.
Inconsistentes. Sublimes.
Um sulco inviolável persiste entre nós,
como uma coreografia de personagens paralelas.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

5.1.07

O meu retrato de criança vai-se cobrindo de pó

Claude Simon



O meu retrato de criança vai-se cobrindo de pó.
Nada me pertence, salvo a memória
de trilhos luminosos nas encostas da noite.
A lua entra-me, inteira, na garganta,
rompe-me o peito de lés a lés e sublinha,
a cores, uma errância inscrita no destino.
Quem foi que ousou apagar, de meus pés,
os traços de impossíveis aventuras
e me deixou, na pele, tamanha rebeldia ?
Enterro os dedos, em dunas de areias
assombradas que me sufocam a alma,
até à dor, porque trago, na boca,
um imenso deserto traçado a sede.

Graça Pires
De Reino da lua, 2002

4.1.07

Vamos falar de poesia


POÉTICA

O acto poético é o empenho total do ser para a sua revelação. Este fogo de conhecimento, que é também fogo de amor, em que o poeta se exalta e consome, é a sua moral. E não há outra. Nesse mergulho do homem nas suas águas mais silenciadas, o que vem à tona é tanto uma singularidade como uma pluralidade. Mas, curiosamente, o espírito humano atenta mais facil­mente nas diferenças que nas semelhanças, esquecen­do-se, e é Goethe quem o lembra, que o particular e o universal coincidem, e assim a palavra do poeta, tão fiel ao homem, acaba por ser palavra de escândalo no seio do próprio homem. Na verdade, ele nega onde outros afirmam, desoculta o que outros escondem, ousa amar o que outros nem sequer são capazes de imaginar. Pala­vra de aflição mesmo quando luminosa, de desejo ape­sar de serena, rumorosa até quando nos diz o silêncio, pois esse ser sedento de ser, que é o poeta, tem a nostal­gia da unidade, e o que procura é uma reconciliação, uma suprema harmonia entre luz e sombra, presença e ausência, plenitude e carência.
Essa revelação do poeta, e dos outros com ele, essa descida ao coração da alma, de que Heraclito encon­trou a fórmula, essa coragem de mostrar o que achou no caminho - e nunca é fácil, nem alegre, nem irresponsável revelar o que se encontrou ou sonhou nas galerias da alma - é o que chamarei agora dignidade do poeta, e com ele a do homem. Porque é sempre de dignidade que se trata quando alguém dá a ver o que viu, por mais fascinante ou intolerável que seja o achado.
«O futuro do homem é o homem», estamos de acordo. Mas o homem do nosso futuro não nos interes­sa desfigurado. Este animal triste que nos habita há milhares de anos, cujas possibilidades estamos tão longe de conhecer, é o fruto de uma desfiguração - acção de uma cultura mais interessada em ocultar ao homem o seu rosto do que em trazê-lo, belo e tenebro­so, à luz limpa do dia. É contra a ausência do homem no homem que a palavra do poeta se insurge, é contra esta amputação no corpo vivo da vida que o poeta se rebela. E se ousa «cantar no suplício» é porque não quer morrer sem se olhar nos seus próprios olhos, e re­conhecer-se, e detestar-se, ou amar-se, se for caso disso, no que não creio. De Homero a São João da Cruz, de Virgílio a Alexandre Blok, de Li Po a William Blake, de Bashô a Cavafy, a ambição maior do fazer poético foi sempre a mesma: Ecce Homo, parece dizer cada poema. Eis o homem, eis o seu efémero rosto feito de milhares e milhares de rostos, todos eles esplendidamente res­pirando na terra, nenhum superior a outro, separados por mil e uma diferenças, unidos por mil e uma coisas comuns, semelhantes e distintos, parecidos todos e con­tudo cada um deles único, solitário, desamparado. É a tal rosto que cada poeta está religado. A sua rebeldia é em nome dessa fidelidade. Fidelidade ao homem e à sua lúcida esperança de sê-lo inteiramente; fidelidade à terra onde mergulha as raízes mais fundas; fidelidade à palavra que no homem é capaz da verdade última do sangue, que é também verdade da alma.

Eugénio de Andrade
In: Poesia e prosa [1940-1986], 3º vol.
Lisboa: Círculo de Leitores, 1987

3.1.07

Tu, distraído de mim

Peter Ardito

Disponho, na mesa, o bolo de canela,
o chá de camomila, os frutos secos,
as flores acabadas de colher. Tu,
sentas-te ao meu lado, distraído
de mim. Os livros vão ganhando espaço,
disseste. O chá ficou morno, de repente.


Graça Pires
De Quando as estevas entraram no poema, 2005

2.1.07

Sei os caminhos da água

Manuel Fazenda Lourenço

Nos meus olhos, povoados de aves nocturnas,
recapitulo a nomenclatura dos ventos.
Sou nómada. Sei os caminhos da água,
por minha boca, nada sóbria, em plena sede.
Sem qualquer pretexto transcrevo,
linha a linha, o perfil emotivo desta cidade,
onde piso todos os caminhos procurando o rio
e o corpo me estremece à proximidade da água.
E, como se escavasse no coração
a promessa de uma pátria planto,
entre as unhas, heras de palavras,
que constroem a morfologia dos nomes que amei.

Graça Pires
De Reino da lua, 2002

1.1.07

Em seara alheia



Não: devagar.
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.

Devagar...
Sim, devagar...
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar...

Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
Talvez a impressão dos momentos seja muito próxima...

Talvez isso tudo...
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar...
O que é que tem que ser devagar?
Se calhar é o universo...
A verdade manda Deus que se diga.
Mas ouviu alguém isso a Deus?

Álvaro de Campos