Katia Chausheva
por dentro dos sentidos
e desenha um espaço sagrado
anterior a um horizonte esvaído no olhar.
Cerro os olhos
para que a verdade se mostre inteira.
Quero o código secreto do encantamento
que a memória guarda.
Quero o pórtico litúrgico
atravessado por antígona
com a precisão e o decoro
de quem se reivindica
herdeira da luz e das sombras ancestrais,
de quem atenua a distância entre o grito
e o silêncio de uma desarmonia interior.
Fantasmas exigem, em uníssono,
o sangue inocente.
Ai, a fragilidade da vida na ara dos sacrifícios!
Ai, o puro instante de um nome fraterno
abrasando a alma!
Ai, a coragem aflita desta punição indefesa!
Graça Pires
De Antígona passou por aqui, 2021, p. 32