Manuel Fazenda Lourenço
quando era absoluta a cintilação do dia.
Havia uma praia com areia muito fina
Havia toldos brancos às riscas azuis.
Havia o prego e as cinco pedrinhas
que divertiam as meninas.
Havia o som de risos e brincadeiras.
Contra o vento flutuava o rigor da luz
em meu olhar tão cheio de candura.
Os rapazes faziam do jogo da bola
o gozo e o pretexto de espreitar
as mais distraídas a vestir o fato de banho.
O mar com ondas sempre enormes
era demasiado belo não fora o banheiro
a enfiar-me a cabeça na rebentação
como num cerco escuro
indiferente ao meu berreiro.
A água que eu engolia fazia descer a maré
tinha a certeza porque depois
a ondulação acalmava dilatando o areal.
E o sol sem pressa tornava os dias
mais longos e memoráveis.
Graça Pires
De O improviso de viver, 2023, p. 46