28.9.06

Quero que me abraces

Rodin

Quero que me abraces,
antes que a tristeza envelheça no meu peito.
Com o tempo, habituei-me
à conivência das palavras
e a usar, com inocência, certos gestos.
A tua sombra é-me familiar.
Sou espectador do teu sorriso
tão perto da simplicidade.
Quero falar contigo, horas a fio.
Sem pretextos de fuga.
Sem palavras caladas.
Um silêncio definitivo ser-nos-ia fatal.
Mas, depois, partirei,
porque sei que há no meu sangue
uma embarcação possessa
do chamamento do mar, ou da solidão.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

2 comentários:

Parapeito disse...

...a ser que seja o chamamento do mar que te leve para longe da solidão...
Gostei muito de estar aqui a sentir o que escreves com pele.

Tudo de bom*

António R. disse...

Há abraços assim fortes e profundos como este poema. Abraços que deixam marcas.
Um abraço.