23.3.09

Houve noites

Alvarez Bravo

Houve noites em que sonhei
que o sol incendiava as pedras
que eu pisava.
Ou eram os meus pés
que ateavam o fogo?
À espera que as lembranças
me tranquilizem
cubro, com o véu do tempo,
o meu verdadeiro rosto.
Desfaço a bainha
dos panos que me vestem
com a farpa desta sede lenta
que se oculta na terra
sem retorno.


Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008

62 comentários:

José Manuel Vilhena disse...

"Ou eram os meus pés
que ateavam o fogo?"
Desconfio que somos sempre nós que nos incendiamos.
Um lindíssimo poema que me diz bastante!

um abraço

Paula Raposo disse...

Um lindo poema, Graça. Uma foto muito sensual. Gostei imenso. Beijos.

maré disse...

à tua espera
invento em pregas surdas o meu destino...um tecido-refúgio para atravessar as incongrências da noite.

_____
Dizer que é belíssimo é tão pequeno Graça...

um beijo grande, grande

Sara M. Felício disse...

O tempo relembrando-nos de nós mesmos... sempre o tempo.

Belíssimo este poema, principalmente o final.

Um beijinho, Graça

Hercília Fernandes disse...

Belíssimo, Graça.

O fogo é a essência da vida,
mesmo que o aprisionemos dentro de nós,
ele escorre por entre os dedos, ascende labaredas
que queimam nossos pés descalços...

Mais um lindíssimo poema, Graça.

Forte abraço, minha amiga.

H.F.

Marta Vinhais disse...

Há noites que ficam sempre vazias....Apesar de todos os suspiros e desejos....
Lindo....Gostei muito...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Mésmero disse...

Do jeito que anda o clima, bem capaz das pedras pegarem fogo mesmo.

luis lourenço disse...

Viva Graça!

poema encantador cheio do lirismo da vida e da saudade...alta qualidade a da sua poesia...o tempo é safado...tenho sido mais parco nas visitas. mas me sinto gratificado sempre que a visito.

beijinho,

véu de maya.

São disse...

Quem ateava o fogo? Talvez a fusão de tudo...
Uma feliz semana, linda!

simplesmenteeu disse...

Não, não eram as arestas rugosas das pedras que arrepiavam a pele e enchameavam o andar...
O fogo nascia dentro das veias... quando o musgo aveludado, que nelas adormecera, tocava os pés descalços... ou, quando o meu olhar se perdia, no verde do caminho, onde havia ainda o som dos meus passos abrindo as ruas da espera... e de todos os possiveis...

Abraço forte

PreDatado disse...

Tão belo :) E a foto bem enquadrada no poema.

Unknown disse...

Tão lindo o teu poema, Gracinha, e tão bela a foto!
Gostei muuuuuiiiitttoooo!
Beijos.
EA

Maria Clara disse...

"o sol incendiava as pedras
que eu pisava.
Ou eram os meus pés
que ateavam o fogo?".

Lindíssimo poema, Graça Pires. Sente-se a chama em cada palavra e imagem.

Você é uma poetisa abençoada por DEUS. Possui o dom de comunicar, com beleza poética, os sentimentos.

Bravíssimo!

Maria Clara.

Anónimo disse...

Lindo poema! Linda foto!
Mostra a forma de como nos sentimos.. um mostrar.. querendo esconder...


bjs

Pena disse...

Linda Amiga:
Um esbelto rosto oscultado por pés de sonho incendiados de um sentir de desejo. Um poema doce e sensível, em que a imagem condiz fielmente com o fabuloso versejar.
Lindo. Puro. Perfeito.
Beijinhos amigos de respeito e estima.
Sempre a dmirar a bela poetisa que é.


pena

OBRIGADO pela simpatia no meu blog.
Bem-Haja!

Benó disse...

Um poema cheio de fogo, do fogo que certas lembranças nos criam.
É sempre agradável lê-la.
Um abraço

Bandida disse...

colapsos.



beijo

Anónimo disse...

"desta sede lenta que se oculta na terra sem retorno."

palavras em fogo
na escrita plantada no tempo.

belo, este "houve noites"!

isabel mendes ferreira disse...

clap clap clap



por todas a s noites que hoje são dias . intensos. de luz. a irradiar sonoridades que se perpetuam.




beijo Graça.

imenso.

M.A. disse...

"Houve noites em que sonhei
que o sol incendiava as pedras"...

um poema muito bom, Graça Pires!

beijo, mariah

Luis Eme disse...

lindo...

que bela mancha de sonhos que tens, Graça.

abraço

Anónimo disse...

"...desta sede lenta
que se oculta na terra
sem retorno."
Magnífico este final!
Poema que traduz um imenso sentimento e emoção...
A fotografia é belíssima, carregada de sensualidade.
Beijo.

hfm disse...

De regresso e fazendo a ronda pelos meus blogues favoritos como gostei deste poema. Aliás voltarei para ler os que a minha ausência me impediu de usufruir. Um abraço

Anónimo disse...

esta fotografia é belíssima, graça. de uma ternura e pureza comoventes. uma certeira ilustração das suas palavras, que do passado renasceram e se iluminaram. um rosto descoberto, o do poema :) um grande beijinho.

Celina Rodrigues disse...

Fogo que nos aquece nas noites frias de inverno.
Um beijo

susana disse...

Olá Graça voei até aqui e ao pousar no teu ninho, vi que tens um cantinho maravilhoso, cheio de poemas lindos com diversos temas.

Gostei de aqui parar voltarei.

Que um anjo te ilumine

Teresa Durães disse...

sim, esse incêndio começa em nós e espalha-se em volta

Manuel Veiga disse...

belo e expressivo poema...

o fogo das noites vibrantes. que teimam na sede lenta...

beijos

Licínia Quitério disse...

Sede que só a terra sabe.

Lindíssimo, Graça.

Um beijo.

Mofina disse...

Intenso. De corpo e alma. Tanta entrega...

Beijo.

Andreia disse...

Que bonito! *

Marinha de Allegue disse...

Lindísimo Graça e a foto xenial tamén.

Un post redondo.

Unha aperta.
:)

mundo azul disse...

_________________________________


Belas imagens em seu poema, Graça!


Beijos de luz e o meu carinho...

___________________________________

adouro-te disse...

A desnudar-se com a farpa duma sede lenta... Que maravilha!
Mas sem retorno?
Foi sonho e não pesadelo... digo eu!
Beijos.

vieira calado disse...

Cá tenho o seu belo livro.

Só que, no livro, não há imagem...

Bjs

Gisela Rosa disse...

...a beleza dos incêndios, sonhos que se propagam entre o céu e a terra ...e as pedras que se elevam quando o sol nos trespassa!

Adorei Graça, com retorno!
Um beijinho

Mar Arável disse...

Nunca é tarde para o fogo

Tudo muito belo

Béa Pedrosa disse...

o seu poema me faz viajar na imagem e quando olho pra imagem, viajo no seu poema...

palavras e fotografia com muita sensibilidade.

adorei voltar aqui, não sei pq fico tanto tempo ser aparecer.

um beijo e ótima semana!

Adriana Riess Karnal disse...

"desfaço a bainha dos panos que me vestem"...embora ela esteja coberta, se desnuda aos poucos, se mostra quando queima. O que arde nela???

Pena disse...

Genial Poetisa amiga:
Este "Houve noites" prima pela pureza e beleza do seu harmonioso Ser e Estar.
Fabuloso, numa poetisa fantástica e admirável.
Parabéns sinceros e sentidos.
Sempre a admirar o seu talento poético gigantesco.

Beijinhos de pasmo pela sua pureza, estima, respeito e agradibilidade que maravilha e deslumbra pelo que "faz"...

pena

Bem-Haja, amiga inconfundível.

Menina Marota disse...

Uma noite... tantas noites... que a tua magnifica poesia me acompanha.

Excelente este momento... conjugação de imagem com o poema...
lindo!

Um grande beijo

O Profeta disse...

A palavra é semente
Que floresce na luz de cada alma e enternece
Às vezes é doce veneno
Às vezes taça de cidra que o peito aquece

Ser Poeta é tanto, tão pouco
É transformar em crentes os ateus
É domar todas as tempestades da alma
É estar mais perto de Deus


Mágico beijo

Lou Vilela disse...

Versos flamejantes, Graça!

Tem um “mimo” para você no Nudez Poética.

Abraços,
Lou

Anónimo disse...

Sublime!
Todos os versos se desencadeiam no incêndio do sonho.
Não há uma única palavra a mais.
Perfeito.

Beijo

José Ángel García Caballero disse...

há palavras capazes de iluminar as ruas do encontro...
gostei muito deste poema,
um beijo

mariab disse...

de noites em chama. e dessa sede que nos toma. dito com a beleza de sempre. beijos

A.S. disse...

Amiga Graça Pires!

Quando teus pés
ateavam fogo,
não sonhavas!
Eras tu o sol
das noites brancas
sem luz!
Agora, a memória é lume
subindo um íngreme monte
sem cume!...


Um abraço!

Jaime A. disse...

Não há retorno,
há o regresso esfarrapado,
intranquilo,
há um famélico
e debruado esqueleto,
que se veste da bainha
debruada a nada.
Entrecorta-se o suor,
há um fogo que traz lembranças
de um véu de um templo que rasgou.
E Alguém,
passos entrelaçados,
firmes,
na pedra angular,
sorriu:
"Eis-me aqui."

Nilson Barcelli disse...

Há noites assim...
Mas há poesia que as descrevem com mestria. Como a tua neste poema.
Escolheste a foto perfeita para o poema.
Bom fim de semana,
Beijo.

segredo disse...

E como é bom sonhar!!! Quantas vezes nos vale o sonho para alimentarmos a nossa alma...
Vim conhecer o teu canto e gostei;)
Beijinho de lua*.*

Pedro S. Martins disse...

Sonhando vamo-nos mantendo acordados.

Anónimo disse...

A um ano descobrí o português num poema seu que encontrei casualmente.
Agora fico em portugal para aprender bem a lingua que a inspira.
Obrigada por descubrir-me o seu mundo.
Una abraçada mediterranea.

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Ìgneo, totalmente !
beijo
_________ JRMARTO

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um poema perfeito.

uma foto erotica.

beij

© Maria Manuel disse...

de um desejo encoberto, lindíssimo, Graça!

um beijo.

~*Rebeca*~ disse...

Adorei!

Monte Cristo disse...

Há muito que não te visitava. Pior para mim. Mas cá estou, hoje, dia de vento, que fazem os lençóis esvoaçar, para ver o teu verdadeiro rosto. Sempre sem mácula. Mas sempre sem esperança? Ou prenhe dela?

Um beijo.

José Renato disse...

Que maneira magnifica de falar sobre o tempo. É um poema lindo e difícil. Gostei muito da sede da terra como moto da poesia e...
abraço

http://cinzasdecarvalho.zip.net disse...

Meu Deus!!! Lindo! Bj,Gra!!!

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Nem tudo o que 'pensamos' que vemos é o que é de fato. Nossos olhos muito nos enganam, por isso creio que teus pés ateavam fogo nas pedras, assim como nas palavras que incandescem de poesia nossos corações.
Eu sei, sou suspeita para falar...rs...
beijo no coração

De Amor e de Terra disse...

Creio terem sido os pés a atearem o fogo...

Bj

Maria Mamede

Laura Ferreira disse...

Obrigada pela visita ao meu cantinho.
Gostei deste espaço...