2.12.24

Memória dos sentidos

Ana Pires Livramento




Olho para além dos sinais visíveis do horizonte.
Há um caos na trama dos dias apressados.


O pão há muito não tem o sabor da seara.
No verão o aroma dos figos e da urze
já não transpõe a ombreira da porta.
Nos muros caiados a violência do sol
atinge o olhar incauto dos que amam as sombras.
As vozes caladas das mulheres são um áspero bulício
contra as casas com frinchas nas janelas.
Nas mãos de toda a gente lateja um ritmo veloz
um impulso extraviado um gesto evasivo.

Instantes que perturbam a incerta imensidade do tempo.

Graça Pires
De O improviso de viver, 2023, p. 10

2 comentários:

Jaime Portela disse...

E tudo vai mudando.
Para melhor e para pior...
Excelente poema, como sempre.
Boa semana cara amiga Graça.
Um beijo.

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de Paz, querida amiga Graça!
Já não se faz mais dia como antes.
Tudo mudou em termos de tudo...
Seu poema tão profundo e expressivo demonstra a dura realidade da vida e do caos reinante.
Uma névoa turva invade o Universo nos deixando cheios de incertezas dolorosas.
Tenha um Advento abençoado!
Beijinhos