14.
No tempo de ser erva
ofereci-me aos bichos e aos homens
e ensinei-lhes o verde e a frescura.
Depois fui pedra
e dei poiso aos bichos e aos homens
para despirem o cansaço.
Nesse tempo de pedra
aprendi a descida e o prazer de rolar
e ver o céu rolar em minha volta.
Depois experimentei ser água
e lavei as memórias de ser erva e de ser pedra.
Agora respiro fundo ao cheirar a erva acabada de cortar.
Apanho pedras no caminho e acaricio-as.
Guardo nos olhos o ondular das águas de regresso.
Chamam-me mulher.
Ainda me falta ser vento e ser viagem.
Licínia Quitério
In: No sítio das mulheres estremeço e teço e parto: antologia temática. Lisboa: Poética, 2025, p. 24
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