23.9.11

Outono

Ana Pires

Alheia à continuidade das manhãs
fixo um encontro comigo
para a hora em que a terra se deixa amar sem cólera.
Tudo converge no sombreado das árvores
chorando as folhas.
Sento-me na esplanada dos prodígios
e abro um bloco pautado
para fixar a voz daqueles que ninguém ouve.
Ao mesmo tempo, apanho do chão
as memórias desta cidade
onde todos os sinais de vida
se conjugam com o verbo esperar
e todos os odores são uma mistura de fumo,
de fadiga, de suor e de solidão.
Tudo se passa, simultaneamente,
como uma despedida e um reencontro.


Graça Pires
De Outono:lugar frágil,1994