14.11.11

Memórias de Dulcineia XXII

Trémula, ajusto à mão
a posse das palavras
e conto:
Numa aldeia da Mancha
um homem recuperou a razão
e começou a morrer.
Banido de seus sonhos,
as sombras da tristeza
devolveram-lhe o nome
e o rosto que eram dele.
Aos poucos, o seu corpo
tornou-se circular
e fundiu-se com as velas brancas
de um moinho de vento,
que continua a girar
numa aldeia da Mancha,
de cujo nome não me lembro.

Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008