30.4.12

A escassez do amor e do pão de cada dia

Dorothea Lange

                       Desconhecemos as cicatrizes das mãos
que manejaram a mó dos moinhos
e a fadiga das que mondaram a terra,
num ritual repetido infindavelmente.
Nada sabemos das mãos gretadas
pela acidez das resinas e do pó,
pela dureza da enxada e do arado.
Abandonadas há muito tempo,
as alfaias antigas ainda rangem
nas mãos dos que pisam os trilhos
das cabras em lugares desamparados.
São mãos onde se lê a escassez
do amor e do pão de cada dia.
Graça Pires
De Uma vara de medir o sol, 2012