7.7.25

Em seara alheia

 





queremos estar vivos hoje
recusamos grilhetas antigas de senhores que já matámos
recusamos prender estas bocas
que queremos transbordantes de música

queremos estar vivos hoje
lançar braços sobre o silêncio
rasgar a solidão que cerca de arame farpado
os corações amortalhados nas grandes metrópoles

queremos estar vivos hoje
dizer esta alegria por dentro de nós
derrubar muros e barreiras de línguas e nações
somos todos a mesma gargalhada
e ousamos querer tudo que a tudo temos direito

queremos estar vivos hoje
que ninguém nos venha dizer por onde ir
porque hoje
hoje nós sabemos o que queremos
os caminhos por onde seguir

queremos estar vivos hoje
gritar raivas antigas alegrias novas
pontes para um amanhã
que hoje queremos nosso

porque hoje
hoje
queremos estar vivos sempre

ahcravo gorim
In: Sentou-se à mesa do café. Imagens Elisa Scarpa. Babilónia, 2025