14.7.25

Bolero de Ravel







Ouço em modo
de oração antiga
pausadamente rezada
o bolero de ravel.
O ritmo invariável
quase silencioso
elevando o tom.
Como água imóvel
retida refreada
até ao tumulto crescente
de rios que se juntam
para galgar a sede.

Graça Pires
De Talvez haja amoras maduras à entrada da noite, 2015, p. 37




15 comentários:

Marta Vinhais disse...

E deslizamos serenamente....numa certeza, numa oração pela Paz...
Beijos e abraços
Marta

Os olhares da Gracinha! disse...

Um bolero que aquece a alma! 👏👏👏😘

chica disse...

Poesia tão linda quanto o bolero de Ravel!
Ótima semana!
beijos, tudo de bom,chica

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida amiga Graça!
Realmente é para ser ouvido da forma como poetou.
Um clássico aos ouvidos de uma poetisa vira poema.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos fraternos

Andre Mansim disse...

Nóssa! Que lindo.
Vou reler depois, escutando um bolero de Ravel.
Deve ser como você criou.

Boa semana!

Mário Margaride disse...

Apaixonei-me pelo Bolero de Ravel em 1976. Quando vi pela primeira vez um concerto na Televisão, pela Orquestra Filarmónica de Berlim. Foi amor à primeira vista.
É fascinante e envolvente de principio ao fim. Maravilhoso!

Belo poema, amiga Graça!

Beijinhos, carinhosos de amizade, e feliz semana com tudo de bom.

Mário Margaride

Luiz Gomes disse...

Bom dia e uma excelente segunda-feira. Cheia de conquistas e coisas boas. Obrigado pela linda poesia, minha querida amiga Graça.

Luís Palma Gomes disse...

Entre os poucos discos de música clássica do meu pai, havia um deles que me marcou musicalmente (A escassez valoriza as mercadorias). Tinha o Bolero de Ravel e o Le Mer e o Aprés Midi d'un Faune do Claude Debussy. O ler o seu poema consigo recordar-me claramente do crescendo de emoções que o Bolero me trazia. Aquela repetição espiralada da mesma frase musical a caminho dos seus. Olhe que não é fácil, Graça, descrever uma música num poema, mas de facto conseguiu. Pelo menos, para quem já conhece essa música/excerto(?). Quanto ao Debussy, tornou-se um dos meus compositores favoritos. Debussy na música, Pessanha na poesia, fizeram-me apreciar desde que conheci o movimento simbolista. Os franceses Verlaine e Mallarmé também são muito bons. O Baudelaire também. Mas tenho uma tradução surreal das "Flores do Mal" da Maria Gabriela Llansol. É pena que as pessoas estejam sempre a tentar pôr-se em "bicos dos pés". E penso que a tradutora, neste caso, tentou se sobrepôr à obra. Quando comprei o livro não detetei. Agora tento lê-lo em francês com os meus parcos recursos. Recomento o Albatroz: "
Souvent, pour s'amuser, les hommes d'équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.

À peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d'eux.

Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau, qu'il est comique et laid!
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait!

Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l'empêchent de marcher.

Tradução:
Às vezes no alto mar, distrai-se a marinhagem
Na caça do albatroz, ave enorme e voraz,
Que segue pelo azul a embarcação em viagem,
Num vôo triunfal, numa carreira audaz.

Mas quando o albatroz se vê preso, estendido
Nas tábuas do convés, — pobre rei destronado!
Que pena que ele faz, humilde e constrangido,
As asas imperiais caídas para o lado!

Dominador do espaço, eis perdido o seu nimbo!
Era grande e gentil, ei-lo o grotesco verme!...
Chega-lhe um ao bico o fogo do cachimbo,
Mutila um outro a pata ao voador inerme.

O Poeta é semelhante a essa águia marinha
Que desdenha da seta, e afronta os vendavais;
Exilado na terra, entre a plebe escarninha,
Não o deixam andar as asas colossais!

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães

O tradutor é um dos icones da minha cidade. Delfim Guimarães nasceu no Minho, mas foi um dos benfeitores que transformou a Porcalhota na bela (em 1890) Amadora. Agora, perdeu parte da graça, infelizmente. Mas no príncipio do século XX, era uma bela vila emergente, progressista e republicana. Haveria muito para contar sobre a Amadora. Leiam o livro de BD do José Ruy, "levem-me neste sonho acordado". Estão por lá os principais factos. Na última versão do livro, acrescentou uma vinheta com o grupo de teatro que faço parte: Teatro Passagem de Nível, onde o emérito ilustrador amadorense pode encontrar nos seus últimos anos uma família. Foi lindo.

Beijos, Graça. E desculpe a extensão do comentário.

São disse...

Também já publiquei este poema da nossa amiga Graça.

E publiquei também aquela que considero a mais vibrante direcção do Bolero de Ravel : Sergiu Celibidache, 1971.

Abraço, semana feliz.

brancas nuvens negras disse...

Também gosto, é inspirador. A música ainda é o que nos vale para manter o espírito fortalecido.
Boa semana. Um abraço.

Rajani Rehana disse...

Great blog

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Querida Graça,
Neste Bolero de Ravel, a música transforma-se em prece, e os versos, como as notas,,elevam-se com delicada persistência.
Senti o poema como um sussurro que se vai tornando rio, num crescendo de beleza e emoção contida. A sua escrita toca como a música que evoca: profundamente, sem pressa, e com uma intensidade que cresce dentro de quem lê.
Belíssimo trabalho poético.
Boa semana com saúde e Poesia.
Deixo um beijo.
:)


Ailime disse...

Boa tarde Graça,
Que poema tão belo!
Leio-o no como se estivesse a ouvir o Bolero de Ravel e as suas sílabas e palavras são autênticas notas musicais, que me sussurram o Bolero.
Um momento poético de excelência.
Parabéns pela inspiração, minha Amiga e Enorme Poeta.
Tenha uma boa semana.
Beijinhos,
Emília

carlos perrotti disse...

Atronadores excelsos cuase silenciosos verso amiga Graça, gran Poeta!! Tan acordes al Bolero de Ravel!!
Abrazo admirado!!

Eduardo Medeiros disse...

Um poema perfeito para uma grande obra!