21.3.07

Um alibi de fonemas

Van Gogh

Aqui, onde o silêncio se confunde com a noite,
não me interroguem sobre questões vocabulares.
Possuo um alibi de fonemas, preso à língua,
desde criança. A minha linguagem reivindica
a passagem de papagaios de papel, no olhar
encantado dos meninos e reclama a primavera
em todos os rostos cativos da tristeza.
Há uma gíria de nómadas, entrelaçada no mastro
de um veleiro que, eternamente, singra no meu peito.
Nenhuma insónia me paira sobre os olhos.
Um verão, inclinado sobre o corpo, incendeia
de luas, as sombras que me rondam as mãos.

Graça Pires
De Reino da lua, 2002

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