14.3.07

O enigma dos lírios anilados

Vincent van Gogh
Às vezes é preciso morrer,
entrar no vácuo do tempo
em declive paralelo com a avidez da vida.
É preciso desarticular o medo,
transgredir os sonhos,
desdobrar a alegria sobre a mesa.
E, seja qual for o enigma dos lírios anilados,
haverá sempre a génese de um jardim,
no lençol onde as raparigas se escondem
para chorar o primeiro amor agonizado,
desenhando, nos cabelos, as madeixas
de uma respiração em sangue.
A meia luz, que permite um duelo
de anjos sonolentos esperará, lentamente,
um brilho incorruptível.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

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