3.1.22

A casa permanece




Colhes uma braçada de alecrim e entras em casa. 
O coração bate em todas as paredes. 
Acolhes a intimidade da penumbra, 
o cheiro da lavanda em cada canto, 
a pulsação do passado. 
Quase tocas as faces familiares presas 
ao inquietamento das janelas fechadas. 
O desvio arbitrário dos dedos 
contorna a trama tecida na memória, 
sobre os nomes sem voz, afeiçoados à morte. 
Insinuada na linguagem do sangue, a casa permanece. 
Esta, onde entras para te reencontrares. 
Olhas os móveis. Fitas os olhos no chão 
e o soalho range com o aperto do olhar, 
como um eco dos teus passos. 
Demoras-te. Entregas-te à irrealidade 
de pretéritos rumores, ao alarme 
de uma distância que não alcanças. 
E recuperas o deslumbramento de seres criança 
e de saberes que de qualquer janela se pode ver o mar.

Graça Pires
De Antígona passou por aqui, 2021, p. 44


Se alguém quiser ouvir o poema pode fazê-lo aqui:
                                            
                                                                    https://youtu.be/jR7-CMOf1RY

55 comentários:

brancas nuvens negras disse...

As recordações de infância e o retorno impossível àquele tempo.
Um poema de grande qualidade literária.
Bom Ano 2022.
Um abraço.

chica disse...

Lindo poema e intensa sensação nessa reentrada na casa da infância... Lindo demais...beijos, ótima semana,chica

Olinda Melo disse...


Cheiros e sabores são as sensações que prevalecem
quando recordamos a casa que permanece em nós,
por mais anos que passem. Dessas lembranças há
sempre uma janela sobre a qual nos debruçamos e
vemos uma nesga de esperança.

Belo poema, amiga Graça, com que inicia este Ano
de 2022, retirado do seu último Livro de Poesia
"Antígona passou por aqui". E que passagem!

Beijinhos
Olinda

Marta Vinhais disse...

Recordações Felizes... na casa que se abre ao tempo e às memórias....
Bom Ano 2022.
Beijos e abraços
Marta

LuísM Castanheira disse...

também eu "entro" nesta casa
com vida nas lembranças
memórias de abertas janelas
d'onde o mar é visível mesmo na
imaginação das crianças
e sonho uma infância
em cada objecto
em cada pulsar energético
em cada cheiro do passado
em cada rosto por mim amado.

que grande poema, querida amiga,
para o início de 2022.

belo.

um beijo, Graça e muita saúde.

Ana Freire disse...

Como são essenciais, este espaços e momentos, que nos proporcionam a possibilidade de nos reencontrar-mos a nós mesmos! Uma sensação fundamental, numa fase tão desafiante e inesperada, como a que atravessamos...
Magnifico início de 2022, por aqui, Graça! Lamento não ter conseguido chegar aqui mais cedo, por ocasião da quadra festiva... mas o cansaço venceu-me por estes dias em que parei mais por casa... tendo de antecipar imensas coisas, nas semanas anteriores, para passar estes dias mais arriscados, com o mínimo de deslocações.
Estimo que tenha passado o seu Natal, da melhor forma possível, e desejo-lhe um muito, muito feliz 2022, com muita saúde, e repleto de inúmeros projectos e muitas alegrias, e que se mostre incomparavelmente melhor, em relação ao ano que passou, para todos nós e para o mundo...
Um beijinho grande! Feliz 2022!
Ana

Fá menor disse...

Ano Novo, a melhor qualidade poética de sempre!

Bom Novo Ano!

beijinhos.

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça.

Recordações de infância que a casa guarda na nossa memória.
Excelente poema, que muito gostei.
Votos de uma excelente semana, e Feliz Ano Novo,com muita saúde.
Beijinhos.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Os olhares da Gracinha! disse...

... e se não se ver o mar... que se veja a serra! Adoro o cheiro do alecrim! 👏👏👏... Bj

Maria João Brito de Sousa disse...

Não prescindo da leitura, pelo menos enquanto os olhos ma permitirem, mas também fui ver/ouvir o vídeo e senti que passava, atentíssima, por onde Antígona passou...

Um beijo e um novo ano com espaço para sorrir e sonhar, Graça.

Ailime disse...

Boa tarde Graça,
Tão belo este poema extraído do seu novo livro que me deixou tão impressionada pelo rigor e beleza das palavras que nos oferece do príncipio ao final do livro.
A infância sempre a falar mais alto ao nosso ser e a deixar as suas marcas bem vincadas nos nossos corações.
Beijinhos, minha Amiga e Enorme Poeta, e um bom 2022 com muita saúde.
Ailime

Sakuranko disse...

Feliz Ano Novo 2022!

Fê blue bird disse...

O que posso escrever que não apague este momento amiga e poeta Graça.
Obrigada pela beleza e grandeza deste poema.

Feliz 2022, com muito amor e saúde.

Um beijinho

A Paixão da Isa disse...

sempre lindos poemas amiga desejo um 2022 muito feliz bjs feliz semana saude

carlos perrotti disse...

Ontem é eterno, Graça. Pura melancolia em seus versos abençoada pelo Tempo ao poder resgatar e reavaliar suas memórias, Poeta!!... Quanta sensibilidade você tem para dar!!

Grande abraço, cuide-se bem e que 2022 seja o grande ano que você e sua poesia merecem.

Arthur Claro disse...

Primeiramente um Bom Novo Ano, segudamente quero dizer que gostei muito da poesia, meus parabéns pela criatividade.

Arthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com

Cidália Ferreira disse...

Gostei muito do poema!! :))
-
A vida recomeça a cada oportunidade
-
Beijos. Bom Ano e uma excelente semana.

partilha de silêncios disse...

Excelente poema.
Regressar às lembranças da infância, traz renovação, força e criatividade.
O vivido, o sonhado e imaginado se fundem, fazendo renascer a força da nossa infância.

Um 2022 com muita saúde
bjs

bea disse...

Que bom era esse tempo de inocência em que de qualquer janela se pode ver o mar. Que poema bonito, Graça.

ManuelFL disse...

E recuperas o deslumbramento de seres criança
e de saberes que de qualquer janela se pode ver o mar.

A casa permanece, verdadeiramente, no nosso coração.

Não se esqueçam de ouvir o poema.

Beijinhos

Emília Pinto disse...

Também a minha " casa permanece " de pé, apesar de , até ela, mostrar os sinais do tempo, Quando a olhoo, não posso evitar uma grande tristeza, querida Amiga; já não posso ver aqueles que tão bem souberam tratar dela, que a encheram de carinho, que tentaram de tudo para que fosse um lar aconchegante; não posso vê-los, mas posso senti-los em cada parede, em cada janela, no quintal que agora parece chorar de saudade daquelas mãos que, sem descanso, o plantava e semeava para que nada faltasse na mesa dos seus queridos; vejo-me debaixo das ramadas a inventar os brinquedos que não tinha, feliz com a liberdade que sentiamos nas aldeias daqueles tempos; já nada é igual,nem a aldeia, nem a liberdade, nem as crianças, nem os brinquedos, mas a casa, essa,lá continua, vazia de gente, mas cheia de boas recordações . Enquanto puder olhar aquelas paredes, mesmo que modificadas , ontinuarei a dizer: " aquela é a minha casa ". Obrigada, querida Amiga, por me levares até à casa da minha meninice e assim recordar os momentos tão felizes que lá vivi. Agradeço também o carinho recebido e espero continuar a merecê-lo; foi bom ter-te conhecido, querida Amiga! O melhor que te posso desejar para este ano é saúde, para ti e para os teus, pois sem ela nada mais interessa. Um beijinho e a minha sincera Amizade
Emilia 🙏 ⭐ 🏡 🌈

alberto bertow marabello disse...

Bellussima poesia.
Nella nostra vecchia casa, odori, colori, sapori, ma anche i suoni e tutti i volti dei nostri cari.
Dolcezza assoluta
Buon anno, amica Poetessa, trattati con cura e con amore.
Um beijo

orvalhos poesia disse...

O mesmo sentir existe em todos que perderam seus entes queridos, a casa continua lá e, tantas vezes sonhamos estar nela como em criança, ali onde era o nosso mundo de afectos, tudo se vai, ficam as memórias, que embora doam também nos dão momentos de terna saudade. Foi um gosto, adoro a melancolia na poesia, a sua arte é sublime, tenho sorte em poder admirá-la.

Bom Ano par a Graça e seus familiares.
Bj.

Lucinalva disse...

Olá Graça
Lindo poema, desejo um 2022 cheio das bênçãos de Deus, bjs querida.

JUAN FUENTES disse...

Las tradiciones son una gran riqueza....

Rogério G.V. Pereira disse...

Fica sabendo
o que de dedo em riste
te vou dizendo

Te não permito
qualquer momento triste
te não permito
que espies, me vigies
esse meu desvio arbitrário dos dedos
o meu modo de olhar os móveis
o meu fitar os olhos no chão
o meu ouvir o soalho que range
a minha entrega à irrealidade
a medida da distância não alcançada

não me vigies
neste recuperado deslumbramento
de voltar a ser criança

ou então
vem ter comigo
à minha janela
a única
de onde podemos ver o mar

J.P. Alexander disse...

Bello y reflexivo poema te mando un beso

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Graça,
Que delícia de texto!
Li sentindo o aroma.
Bjins de um 2022 assim
inebriante como seu texto
e cheio de ESPERANÇA.
CatiahoAlc.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um belo poema de que gostei e aproveito para desejar um Excelente Ano de 2022.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

São disse...

Um dos mais belos poemas!!

Te abraço com voto de feliz 2022 em companhia de quem amas

Luiz Gomes disse...

Boa tarde Graça. Obrigado pelo lindo poema. Senti o perfume do alecrim. Um excelente ano de 2022.

Marco Luijken disse...

Hello Graça,
Wonderful words.
I wish you all the best and health for 2022.

Greetings and hug,
Marco

manuela barroso disse...

Claro que vi e ouvi o vosso trabalho fora de série, Graça.
Impossível desligar-me do eco da tua voz e do vídeo que cada vez atinge maior grau de perfeição.
O poema arrasa ate onde a minha imaginação me arrasta.
Da minha casa não via o mar mas conseguiste esvaziar o momento presente para ver tudo por onde me levaste .
Bravo,Poeta!

Laura. M disse...

Un gusto entrar en esa casa Graça, recordar y sentir sus olores.
Precioso.
Un buen 2022 deseo para tí.
Abrazos.

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, amiga Graça, gostei muito do tema envolvendo sentimentos que se relacionam com a casa, a infância, com os laços familiares, como gostei do seu final quando a criança aparece. Poema denso e belo.
Boa semana, um beijo, amiga.

Maria Rodrigues disse...

Através das suas belas palavras, vi-me também na casa da minha infância.
Um poema sublime.
Beijinhos

Mirtes Stolze. disse...

Bom dia querida Graça
Poema muito lindo. Quê seu janeiro seja muito feliz. Beijos.

teresa p. disse...

A casa permanece e é lá que se guardam as memórias da vida. Em cada canto a pulsação do passado e o deslumbramento de voltar à infância e saber "que de qualquer janela se pode ver o mar." Poema pleno de sentimento e saudade. Muito belo!!!
Beijo.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Graça

tudo me soa familiar neste poema,e gostei tanto!
sim, e de todas as janelas da minha casa na infância se via o mar.
muito belo!
continuação de boa semana.
beijinhos
:)

Tais Luso de Carvalho disse...

Querida Graça, acho que ninguém esquece sua casa de infância, de adolescência e outras casas de nossas fases importantes. De vez em quando passo no bairro que passei minha infância e está lá a casa, com a fachada toda modificada, mas algumas casas dos vizinhos continuam as mesmas e minha casa, embora modificada, é no mesmo lugar, as mesmas recordações. Há anos moramos na rua em que nasci, perto da minha primeira casa, embora hoje esteja no seu lugar, um prédio de apartamentos, nasci no hospital e dias depois direto para essa rua. Dela tenho poucas recordações, devo ter ficado até os 2 aninhos.
Teu belo poema, amiga, trouxe-nos inúmeras recordações! Demos uma voltinha lá no passado, e esse, traz recordações boas demais. Era a vida começando...
Beijinho, querida amiga, um 2022 com muita saúde, alegria, esperança e muitos poemas lindos!

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça.
Passando por aqui, relendo este lindo poema que muito apreciei, e desejar a continuação de ótima semana, e Feliz 2022 com tudo de bom.

Beijinhos!

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Juvenal Nunes disse...

Enquanto for possível evocarmos o passado toda a nossa vivência faz mais sentido.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes

Jose Ramon Santana Vazquez disse...

que este nuevo año te sea lleno de luz paz y esperanza para ti y los tuyos Graca Pires , recibe un fuerte abrazo rebosante de versos ,atantamente . jr.

Roselia Bezerra disse...

Quando de todas as janelas podemos ver o mar, querida amiga Graça, tudo é festa em nosso 💙.
Tenha um ano novo especial, muito feliz e abençoado junto aos seus bqueidos!
Beijinhos 😘

Majo Dutra disse...

Sim, as pessoas partem ou mudam, mas a casa permanece -- por muito tempo...
E as memórias também.
Tão belo e expressivo, estimada Poeta! Um beijo.
~~~~~~~~~~~~

Jaime Portela disse...

Um poema fabuloso, com a mestria poética que te carateriza.
Os meus aplausos.
Bom fim de semana, amiga Graça.
Beijo.

Roselia Bezerra disse...

*queridos, quis dizer.

Aproveito para lhe desejar um final de semana abençoado.
Beijinhos carinhosos 😘

Manuel Veiga disse...

poema carregado de memórias e afectos
onde a Poeta se olha com ternura e sauade

o Tempo é um ladrão, dir.se-ia!

beijo, querida Graça

As Mulheres 4estacoes disse...

A casa guarda as memórias que lhe emprestamos. Cada parede e cada detalhe nos conta uma história, desperta uma lembrança.
Eu guardo tão boas lembranças da casa que passei infância, que tinha um enorme quintal e muitas flores.
Lindo poema!

Mariazita disse...

Quantas recordações boas!
É uma das várias qualidades dos aromas - o trazer à lembrança mil e uma recordações do passado. Eu "pude" sentir o cheirinho a alfazema...(que adoro)
Excelente poema!

Um feliz Ano Novo com muita saúde e Amor.

Votos de um bom Domingo
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

José Carlos Sant Anna disse...

“[...} E recuperas o deslumbramento de seres criança”
Vim para dizer-lhe que senti o cheiro do alecrim e, também, das pitangas, sobretudo, nesta quadra do ano, entre janeiro e dezembro. E não tenho feito outra coisa senão abrir as janelas para ver o mar. Outro belíssimo poema!
Um beijo, minha amiga Graça

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

Recuperar la mirada de asombro de niño. Un abrazo. Carlos

Micaela Santos disse...

Belíssimo poema!
Senti o cheiro do alecrim e da alfazema, ouvi o ranger do sobrado com leves passos, visualuzei uma linda casa no campo de paredes brancas!
Muito bom!
Beijinhos

solfirmino disse...

A memória do passado é assim: uma "distância que não alcançamos..."
Adorei esse poema amiga. Ainda não terminei o livro, tenho de confessar.

lupuscanissignatus disse...

sente-se a pulsação em cada vocábulo