27.1.25

As mulheres trancam-se em casa

 

                                                                   Andrea-Kowch                         


Quando a humidade faz crescer o musgo 
na extremidade dos muros
e o bolor começa a entranhar-se 
nos móveis e nos ossos, 
as mulheres trancam-se em casa 
para recordar lutos antigos 
e gizar o exílio das flores em seu colo, 
como se habitassem todos os gestos 
que as ligam à vida e à morte.

Graça Pires
De Antígona passou por aqui, 2021, p. 74

17 comentários:

chica disse...

Triste quando chega essa umidade e bolor até nos ossos e casas. Mais triste ainda trancar-se em casa...
Linda poesia! beijos, chica

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de Paz, querida amiga Graça!
Perfeito!
Uma descrição poética exata do que se passa conosco, algumas vezes, quando a Estação se encolhe... vivo muito melhor no Verão.
"As mulheres trancam-se em casa
para recordar lutos antigos".
O inverno atrai tristezas.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos fraternos

brancas nuvens negras disse...

Poema triste mas com algo de real. Os homens também se encerram no seu desalento.
Boa semana.
Um abraço.

Jaime Portela disse...

A casa é sempre um refúgio.
Excelente poema, gostei imenso.
Boa semana.
Beijo.

Os olhares da Gracinha! disse...

O olhar é impressionante! O texto bem pertinente! Obrigada pela visita e boa semana!!! 😘

deep disse...

Quando não se trancam em casa, alguém as tranca, atribuindo-lhe responsabilidades em acumulação. Infelizmente, as coisas mudaram muito pouco para algumas mulheres.
Um belo e sentido poema, Graça.
Um beijo e votos de boa semana.

Luís Palma Gomes disse...

Dizem, agora, que não existe uma essência feminina exclusiva às mulheres. Quando leio este poema parece-me que sim. Somos todos livres, homens e mulheres, de decidirmos o que gostaríamos de ser. Contudo, pergunto se o nosso corpo, enquanto determinante biológico, coloca ou não limites a essa liberdade? Bonito poema. Descreve uma realidade disposicional muito frequente, por meio de belas metáforas e simbologias (muros, musgos, móveis (boas aliterações). O remate também é forte e lembra-nos que ninguém deve sentir mais a morte do que aquelas que nos dão a vida. Boa semana, Graça

Mário Margaride disse...

Ainda há muitas mentalidades retrógadas que assim pensam. Que as mulheres são para estar em casa. É triste e lamentável que em pleno século 21 ainda hajam mentalidades assim.
Excelente poema, amiga Graça! Gostei bastante.

Deixo os votos de uma feliz semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

Marta Vinhais disse...

Quando parece que o Mundo desaba...e nada mais há a dizer...
Belo.
Beijos e abraços
Marta

São disse...

Gostei muitissimo deste belo e triste poema, minha Amiga.

Beijinho de saúde excelente semana :

Klaudia Zuberska disse...

It's a sad poem, but it has a lot of truth and life in it. Not everything is colorful, sometimes it contains mold.

teresadias disse...

Uma alma grande e poética escreve assim, versos de profunda sensibilidade sobre a realidade da mulher num passado que se faz presente.
Lindo poema, minha querida amiga Graça.
Um beijo. Boa semana. Cuidado com o frio.

Regina Graça disse...

Ou talvez a casa onde os homens pedem tréguas...
Um poema que dói fundo, porque no fundo nos liberta!
Obrigada querida Graça

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Boa tarde Graça
Um poema muito triste cheio de desalento.
Metafóras bem aplicadas que dão uma criatividade e talvez uma leveza ao tema.
Mas, actualmente penso que não são só as mulheres que se fecham em casa e na sua solidão.
Gostei muito desta partilha.
Boa semana com paz e saúde.
Um beijo
:)

carlos perrotti disse...

La mujer siempre consciente, más que nadie, de la vida y de la muerte... Gran poema, amiga Graça. Es siempre inspirador leerla.
Abrazo admirado una vez más.

Carlos augusto pereyra martinez disse...

El musgo y la humedad cuánto obran en el poema, como una huella de tiempos oscuros y sombríos sobre las casas. Un abrazo. Carlos

Eduardo Medeiros disse...

Olá, Graça.
Li teu poema 3 vezes para tentar captar suas belas metáforas. Creio que captei o bastante, e digo, o recolhimento pode ser estratégico se não for doentio, com bolores extremos.