20.1.25

Em revolto espanto

 

Rembrandt


Era fluvial o brilho dos meus olhos
em revolto espanto à procura do mar
que brandia no meu peito.

Eu vi a tempestade em redor dos barcos
e lamentei cada náufrago pelo nome completo.

Há nódoas de sangue
nas conchas dispersas no areal.
Há um choro submerso
entoado pelos búzios
no bramir das ondas.
São perigosos os limos vermelhos
trazidos por ventos de sal.

Um frio inesperado
fere as sombras dos pássaros
sobre as encostas
e o leito das mulheres nos panos da noite.

Graça Pires
De O improviso de viver, 2023, p.48

43 comentários:

Jaime Portela disse...

A nossa vida é fértil em espantos...
Excelente poema, gostei imenso.
Boa semana.
Um beijo.

chica disse...

Simplesmente maravilhosa, cheia de forte sentir... è forte nosso espanto por tudo que vemos, por cada nome que se perdeu!
Adorei!
Linda nova semana! beijos, chica

Marta Vinhais disse...

A tempestade que abala tudo...e deixa um rasto de destruição depois...
Belo...
Beijos e abraços
Marta

Kasioles disse...

Admiro a esas mujeres que esperan pacientes la llegada de sus hijos o maridos cada vez que salen a la mar, un día tras otro rezan por verlos regresar.
Pero cuando el mar se enfurece... no entiende del bien ni del mal, arrasa con todo lo que encuentra a su paso y esos hombres, que se ganan la vida pescando en la mar, se sumergen para siempre en tanta inmensidad.
Bello poema y bello cuadro de Rembrandt.
Agradecida por tu visita, ha sido un placer regresar con todos vosotros después de tantos meses en silencio.
Cariños.
kasioles

Ailime disse...

Boa tarde Graça,
Um poema sublime!
O espanto que tantas vezes nos fere o olhar!
As tempestades deixam sempre rastos de dor e destruição.
Um beijinho, minha amiga, e Enorme Poeta.
Desejo-lhe uma boa semana.
Emília

São disse...

Belissimo poema este, minha Amiga !

Te abraço com amizade, excelente semana e muita saúde !

Rogério G.V. Pereira disse...

Este é mais um poema
a trazer a tua marca
E
tão ajustado
ao significado deste dia
e à tempestade
que cerca o Mundo

Beijo

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Boa tarde Graça
Um poema belissímo, embora se traduza em realidades tristes.
Espremos que dias melhores nos visitem e que o calor humano, seja uma certeza.
Boa semana com saúde e harmonia.
Um beijo
:)

Regina Graça disse...

Encantador... O último verso é de uma amplitude comovente!
Beijinhos, votos de uma semana feliz e inspiradora

❦ Cléia Fialho ❦ disse...

Que belíssimo poema! A imagem do mar revolto e das conchas ensanguentadas é visceral e tocante. A forma como você descreve o sofrimento e a esperança me comoveu profundamente. A sua escrita é como um oceano em tempestade, tanto em sua beleza quanto em sua força.

ABRAÇOS

Roselia Bezerra disse...

Boa tardinha de Paz, querida amiga Graça!
Não é fácil se esperar pelo que não vem...
Ainda mais quando se sabe o mar revolto e tempestades terríveis.
"Um choro submerso "... com razão.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos fraternos

Fá menor disse...

Belíssimo!
Quanto do sal trazido pelos ventos nos é impregnado e nos fere a/em frio, tantas vezes inesperadamente!

Beijinhos e boa semana!

Luís Palma Gomes disse...

A primeira estrofe é muito boa, tem uma forte imagética. Os temas marítimos, ainda que usados enquanto metáfora, sempre foram muito impactantes na sua poética, amiga Graça.Sou especialmente sensível a versos como este :"lamentei cada náufrago pelo nome completo.", porque utilizam um campo lexical tão estranho que nos emociona e produz significados novos. Boa semana, Graça

bea disse...

Que belo poema sobre a tempestade e seus efeitos nefastos na natureza e nos homens.
Boa semana, Graça

carlos perrotti disse...

Conmovedores versos que se ilustran por sí solos. Se ven. Confirmo una vez más que su poesía sabe de lo que habla, amiga Graça.

Abrazo agradecido, Poeta!!

brancas nuvens negras disse...

Terrivelmente belo.
Boa semana.
Um abraço.

J.P. Alexander disse...

Me gusto mucho tu poema. Te mando un beso.

Alécio Souza disse...

Querida Graça,
Quantas tormentas temos que enfrentar nessa vida e tentar sobreviver mesmo que na extrema dificuldade. As perdas são inevitáveis, mas o caminho continua a ser trilhado.
Um abraço!

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, amiga Graça, gostei muito desse belíssimo
poema, poema para mais de uma leitura.
Uma boa semana, amiga,
um beijo.

Majo Dutra disse...

Peito de figueirense que sempre ouviu falar de tempestades, vendavais, sustos, pavores, gritos, naufrágios...
Excelente, Poeta Amiga.
Um beijo
~~~~

ManuelFL disse...

O primeiro espanto é a pintura de Rembrandt, revolto espanto que a poeta faz brandir no nosso peito.
Apetece abraçar as mulheres no seu leito, dar a nosso conforto, reconstituir o brilho dos seus olhos.
Magnífico poema. tão sensível e fraterno.
Beijinhos

lis disse...

Sua inconfundível veia poética em mais um bonito poema,. Que o mundo não veja a mão do homem a provocar mais ainda a fúria da natureza que com certeza virá.
(Ainda chocada com o discurso americano, de ontem, Graça) . O poder soberano e o desrespeito em nome de Deus ,foi assustador .Vi algun filmes de Hitler e foi bem aquilo.
O povo aplaudindo a frieza e a arrogância .Que não venha tempestades por aí,amiga.
Beijinhos

Luiz Gomes disse...

Boa tarde de terça-feira minha querida amiga Graça. O quadro "perdido de Rembrandt" Tempestade na Galileia. Obrigado pelo poema maravilhoso. Eu sou apaixonado por pinturas e suas poesias. Grande abraço carioca.

teresa p. disse...

Poema muito belo e cheio de força onde a imagem do mar revolto, na magnífica pintura de Rembrandt, realçam as tempestades em redor dos barcos e geram espanto e lamentos por "cada naufrago pelo nome completo". As metáforas do poema são profundas e comoventes. Beijo.

fali-vendo-me.blogspot.com disse...

Comecei a ler o poema e disse: este poema é de Fernando Pessoa!
Fiquei agradavelmente surpreso por me ter enganado e por ter encontrado um blogue de uma poetisa com esta qualidade.
Tudo bom!

Olinda Melo disse...

Poema com uma força tremenda nos lamentos
e nas palavras que vão ao encontro das nossas
emoções. Búzios e clamor e ondas numa sinfonia
de Vangelis.
Continuação de boa semana, minha amiga Graça.
Beijinhos
Olinda

teresadias disse...

“Era fluvial o brilho dos meus olhos
em revolto espanto à procura do mar
que brandia no meu peito”
Querida amiga Graça, que belo, belíssimo poema este!
És uma poeta talentosa e de grande sensibilidade, que preserva memórias, algumas dolorosas, e as desvenda em imagens poéticas que emocionam e encantam. Admiro muito o teu brilho.
Beijo. Fica bem.

alberto bertow marabello disse...

Quanto tumulto, quanto tormento nelle tue parole, amica Poetisa. Molto bella, forte, ma anche delicata. Molto bella.
Un abbraccio amica mia. Um beijo

Cesar disse...

A conexão com o mar bravio torna teu poema acentuadamente real.
Abraço.

Maria Rodrigues disse...

Tal como a vida, o mar pode ser impiedoso, deixando o nosso coração revoltado e sofrido.
Sentido e belo poema.
Beijos

Margarida Pires disse...

Suas palavras aquecem a alma de qualquer poetisa!
Mesmo quando são de uma tormenta!
Um abracinho de luz, querida amiga Graça!
💋💗💋Megy Maia

manuela barroso disse...

Uma tormenta que transformas em tão formoso rendilhado poético, minha querida amiga ! Todos os elementos se conjugam neste vale de emoções donde nos despedimos mas querendo ficar .
Um grande abraço , querida Graça

Isa Sá disse...

Mais um bonito poema que vim cá conhecer!
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Mário Margaride disse...

Por muito que possamos ter assistido, há sempre alguma coisa que nos espanta. Por vezes, algo completamente inusitado.
Belo poema, amiga Graça. Gostei bastante.

Deixo os votos de um feliz fim de semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

Lucinalva disse...

Boa tarde, Graça
Poema reflexivo. As tempestades da vida surgem inesperadamente, mas com a força de Deus conseguimos vencer, bjs querida e um ótimo final de semana.

MELODY JACOB disse...

The brightness of my eyes was fluvial,
in wild astonishment, searching for the sea.
that I brandished in my chest.

I saw the storm around the boats
and mourned each castaway by name.

There are blood stains
on the shells scattered on the sand.
There is a submerged cry
sung by the conchs
in the roar of the waves. The red slime brought by salt winds
is dangerous . An unexpected cold hurts the shadows of the birds on the slopes and the beds of the women in the night cloths.

Betonicou disse...

Graça, temos aqui um poema que é uma verdadeira obra de arte. A forma como você descreve os elementos naturais e os sentimentos humanos é profundamente tocante. Senti-me transportado para a cena que você pintou com palavras, e a força das suas imagens ficou gravada na minha mente. Parabéns por mais uma criação tão intensa e bela. Numa expressão, bem popular por aqui, eu exclamo: Eita! Muito lindo! Beijos.

lanochedemedianoche disse...

El mar es tremendo, su naturaleza es así, me gusto leerlo amiga.
Abrazo

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Graça,
É sempre uma agradável
experiência ler sua publicação.
Muito, mas muito obrigada
por nos presentear sempre.
Ótima nova semana aí.
Bjins
entre
sonhos e delírios
CatiahôAlc.

Juvenal Nunes disse...

As tempestades no mar são tragédias de luto.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes

Isa Sá disse...

A apassar por cá para desejar bom domingo!
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Mário Margaride disse...


Olá, amiga Graça
Passando por aqui, para desejar uma boa semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.co

Carlos augusto pereyra martinez disse...

El asombro en esta metáfora de barcos y épicos mares, deja constancia que sin él la vida sería fría y monótona. Un abrazo. Carlos