23.6.25

Sem consolo

                        

Katia Chausheva



Não me perguntem
se na vertente da noite
há mães que se deitam
no berço dos filhos
à espera que regressem
de prematuras mortes.
Ou se cantam em uníssono
canções de embalar
na inquieta angústia da demora.
São vozes de deméter
clamando sem consolo
contra os deuses.

Graça Pires
De Talvez haja amoras maduras à entrada da noite, 2025, p. 12

14 comentários:

Marta Vinhais disse...

A dor, a perda...presente na noite e no dia....num grito mudo...
Belo...
Beijos e abraços
Marta

Roselia Bezerra disse...

Querida amiga Graça, uma mãe que chora vale por mil qie abandona.
Um poema concernente à dor de muitas mães que estão 'órfãs' dos seus amados filhos mortos numa guerra ou lutando nela..
Por outros motivos, uma mãe espera... nem sabe o porquê...
Não há consolo para tal dor descrita em sei poema.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhis fraternos

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça
De facto é doloroso para as mães, que não sabem se os seus filhos regressam da barbárie da guerra. É a angústia constante no coração dorido dessas mães.

Excelente poema, estimada amiga.

Beijinhos carinhosos, e feliz semana com tudo de bom.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

Fá menor disse...

Imagino que essa seja uma dor sem cura.
Tão bem o soube dizer!

Beijinhos e tudo de bom!

chica disse...

Liundo poema e chega a doer em cada uma de nós a tristeza o desconsolo de tantas mães nessa situação!
beijos, ótima semana! chica

Jovem Jornalista disse...

Arrasou na poesia!

Boa semana!

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Até mais, Emerson Garcia

São disse...

Um foto ilustrando muitissimo bem um dos teus mais profundos e tocantes poemas, minha Amiga.

Carinhoso abraço, boa semana e feliz Verão .

Eros de Passagem disse...

Sempre tão incisivos seus poemas, Graça. A dúvida que angustia ou mata aos poucos. A recuperação da mitologia grega a nos lembrar Perséfone, sua filha.
Um beijo, minha amiga!
Uma boa semana para ti.

ManuelFL disse...

Este poema fala do sofrimento das mães nestes tempos tão difíceis que estamos vivendo.
Bem hajas poeta pela partilha.
Beijinhos

Luís Palma Gomes disse...

Uma dor que faz lembrar aqueldeus Dema passagem do Apocalipse:"6Naqueles dias os homens procurarão a morte, mas não a encontrarão; desejarão morrer, mas a morte fugirá deles.". Deverá ser esta angústia. Deus valha a todos que este drama aconteceu. Mesmo na natureza, somos testemunhas do autosacrificio de muitas espécies quando se trata de defender a sua prole. Gostei a convocação do Deméter para o poema. Garante uma abrangência deste sofrimento desde o principio da História. Beijinhos e boa semana.

Sadia Jabeen disse...

These lines left me breathless—such raw, devastating imagery. The inversion of the cradle, those phantom lullabies sung into emptiness... You've captured the unthinkable grief of loss with the primal force of myth. This isn't just poetry; it's a cry that reverberates in the bones. Harrowing and magnificent.

Sadia Jabeen disse...

The cradle as a relic. The lullaby as a dirge. You've woven Demeter's timeless rage into something unbearably human—where grief becomes both altar and avalanche. These words don't just speak loss; they *embody* it.

Duarte disse...

Graça, uma imagem muito nossa neste nosso Portugal, muito frequente não há muitos anos. As mães sempre tão entregadas, são sempre as que mais sofrem.
Como aquela mãe de Moreira que, numa madrugada, viu que aquele filho já enterrado lhe chamou à porta.
Um belo poema com um profundo sentir.
Forte abraço

carlos perrotti disse...

Dolidos versos resuenan en medio de la sinrazón reinante... Me conmueven y dejan pensando, Poeta.
Abrazo admirado una vez más, Poeta Graça.