10.11.25

Uma chama perturbada

 

Georges de La Tour




Uma chama oculta e perturbada
tange as cítaras de água‑viva
que transportam em asas invisíveis
todos os silêncios,
depurando a claridade 
no reflexo das sombras.
Fixo a obliquidade dessa chama,
perturbada e oculta,
à espera de uma promessa,
de um milagre, de um ritual 
que me salve das palavras 
sem significado algum.
Escrevo o meu nome
sobre o martírio de antígona
para não ser punida por deuses
ciosos da minha consciência.

Graça Pires
De Antígona passou por aqui, 2021, p. 72

4 comentários:

Jaime Portela disse...

Os deuses estão sempre à espreita...
Excelente poema, gostei de ler.
Boa semana amiga Graça.
Um beijo.

Mário Margaride disse...

Há sempre uma chama oculta em nós, pronta a iluminar e aquecer, a nossa solidão.
Belo poema, amiga Graça. Gostei bastante.

Beijinhos e feliz semana, com tudo de bom.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

Eduardo Medeiros disse...

Poema sensacional!
Essa chama perturbada não se apaga, ainda que à espreita.

Marta Vinhais disse...

Há sempre luz à espreita... basta olhar...com alma....
Beijos e abraços
Marta