27.6.22

Interioridade

Ana Pires Livramento



Aqui estou, cercada de mim, 
melancolia trazida 
do interior de um bosque, 
silhueta a preto e branco 
na figuração de um pássaro em voo lento. 

Há quanto tempo, 
só eu sei quanto, 
as amarras de um barco 
se quebraram, 
no interior frágil 
do instante em que fui vento,
ou apenas um abandono breve, 
como as mãos no acto de dar. 

No ângulo do grito e da língua 
se explica a leveza das lágrimas, 
circunfluência no interior das pálpebras, 
longínquo lago na cintura dos lábios. 

Cheguei ao lugar onde se cruzam 
todos os ventos sem hálito 
e chamo pelo nome os frutos e a fome, 
para que ninguém se comprometa 
ao tocar nos meus ombros.

Graça Pires
De Poemas, 1990, p. 43

Este poema faz parte do meu primeiro livro "Poemas" que, no dia 29 de Junho, faz 32 anos que foi editado.

54 comentários:

Jaime Portela disse...

Um poema com 32 anos, onde o seu talento é bem visível.
Gostei muito, os meus aplausos para a sua criatividade poética, que já é "velha"...
Boa semana, amiga Graça.
Um beijo.

- R y k @ r d o - disse...

A vida até para os barquinhos é cruel. Foto fascinante. Poema deslumbrante.
.
Cumprimentos e uma semana feliz
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei deste excelente poema.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Maria João Brito de Sousa disse...

Um poema belíssimo e uma profunda assumpção de individualidade...

Um beijo, Graça!

chica disse...

Que beleza,Graça e já com 322 anos essa poesia? Beleza!
Parabéns! beijos, ótima semana e muitas inspirações, chica

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de nova semana, querida amiga Graça!
Muito bonito o espírito altruísta da poetisa que toma a si suas próprias dores a fim de não comprometer quem lhe é próximo.
Gostei muito da sua interioridade.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos com carinho fraterno

Marta Vinhais disse...

Chega-se a qualquer lugar...demore o tempo que demorar, as dores que acontecem no entretanto....
Vive-se....
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Lucinalva disse...

Bom dia, Graça
Poema reflexivo, um forte abraço.

ManuelFL disse...

Todos os seus leitores celebram com a Graça o 32º aniversário de edição do seu primeiro livro.

O poema tocou-me muito.
Só apetece guardá-lo no coração, evocar, como a poeta, a nossa frágil interioridade,
instante em que fui vento,
ou apenas um abandono breve,
como as mãos no acto de dar.

Adorei a fotografia da Ana Pires Livramento.

Beijos

Marli Terezinha Andrucho Boldori disse...

Bom dia, querida Graça.A imagem é deslumbrante.
Interioridade, seu espírito contemplativo defende tudo para que nada se perca na exterioridade.Um poema digno de nota máxima.Belíssimo e reflexivo poema. Parabéns!
grande abraço!

Ailime disse...

Boa tarde Graça,
Um poema muito belo, em que a Poeta interioriza todos os seus sentimentos, os seus gestos, num momento de plena intimidade.
Antes como hoje a excelência da sua poesia.
Parabéns pelos 32 anos do seu primeiro livro!
A fotografia de sua filha é extremamente bela.
Um beijinho, minha amiga, e Enorme Poeta.
Desejo-lhe uma boa semana.
Ailime

Roselia Bezerra disse...

Parabéns pelos 32 anos da publicação do seu primeiro livro!
😘🙏💐

Franziska disse...

¡32 años, cómo pasa el tiempo! Es un suspiro la vida y la verdad es que es todo actual en tus versos que, como los sentimientos, no envejecen porque los guardamos en el corazón.
Un abrazo de paz y de esperanza,

brancas nuvens negras disse...

Aprecio a sua poesia, poemas que se destacam pelo saber dizer poético e pelo originalidade. Leio com gosto.
Um abraço.

carlos perrotti disse...

Introspección de Poeta con mayúsculas como vocé provoca tal expansividad en su poema. Es adentrándose bien profundo que se logra asomar...

Abtazo admirada Amiga. Cuídese y tenga paz y felicidad.

Olinda Melo disse...

Muitos parabéns, querida Graça! Trinta e dois anos, uma vida e com tanta vida pela frente. Este poema mostra bem como merece esse lugar de eleição que ocupa na poesia portuguesa.
Bem-haja!
Beijinhos
Olinda

São disse...

Um belo poema , muito bem ilustrado com tão bonita foto.

Querida Amiga, te desejo saúde e feliz semana.

TE abraço com estima :)

Jornalista Douglas Melo disse...

Querida amiga Graça,
que a “longevidade” das tuas obras se revelem entre nós por muitos anos, pois, é um prazer ler os teus poemas.
Beijos, boa semana e cuide-se bem!!!

Fá menor disse...

Um belíssimo poema!
Gosto tanto da sua poesia, Graça Pires! Um poetar inconfundível, maravilhoso!

Beijinhos e boa semana!

Daniela Silva disse...

Belo poema, acompanhado de uma bela fotografia, adoro!

Cidália Ferreira disse...

Um poema maravilhoso...Interessante!! :))
-
Beijos :)

bea disse...

E nele, poema, já é claro e presente o estilo que define a sua escrita.
Imagino que haja sempre um carinho especial pela primeira obra, a obra da coragem e de todos os medos. Parabéns e ainda bem que arriscou, Graça. Ganhamos nós todos.

Nal Pontes disse...

Parabéns. Graça lindo poema. Vale a pena compartilhar de novo. Você é uma poetisa nota 10. Bjs querida sempre bom vim no seu cantinho

Edite Lima disse...

Muito bela poesia que acabei de ler . Parabéns pelos 32 anos de seu primeiro livro . Abraços .
https://kantinhodaedite.blogspot.com

J.P. Alexander disse...

Bello poema. muy profundo. Te mando un beso.

solfirmino disse...

E o barco, o vento, o pássaro... unidos pelo tempo, que parece ter sido ontem. Cá estamos celebrando. Viva a sua poesia maravilhosa, minha amiga.
Uma ótima semana,
beijos

Isa Sá disse...

Mais um bonito poema que vim cá conhecer.
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Os olhares da Gracinha! disse...

A foto é linda e o poema sempre atual👏👏👏...bj

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça,
Poema sublime, onde o sentir do poeta se manifesta em cada verso, com intensa emoção.

Gostei muito.

Votos de uma excelente semana, com muita saúde.

Beijinhos.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Boa tarde Graça

Um poema escrito há tanto tempo!
E eu apenas digo que é um poema sem tempo.
Talento e sensibilidade, a que a Poeta já nos habituou.
Uma foto de suporte belíssima, parabéns à sua filha.
Desejo um boa semana com muita saúde e alegria.
Um beijo
:)

Luiz Gomes disse...

Boa tarde minha querida amiga Graça. Parabéns pelo seu excelente texto.

teresa p. disse...

"Quanto caminho andado desde o primeiro poema..."

Parabéns Graça pelos 32 anos do teu primeiro livro - Poemas - Recordo a tua alegria, a nossa alegria, pelo prémio que ganhaste com ele. Foi há muito tempo mas o que então escreveste continua atual. A emoção, a sensibilidade e a verdade dos poemas fazem-nos sem idade e sempre gostosos de ler e refletir. A foto da Ana Isabel é lindíssima e muito adequada ao poema.
Beijo.

manuela barroso disse...

Ao ler o teu poema, senti um véu, um orvalho, um aroma, uma brisa, um arrepio.
Tudo o que é não estar aqui!
A tua arquitectura e leveza fazem-me esvoaçar as palavras que se negam a habitar-me.
Um grande abraço, queridaGraça!

orvalhos poesia disse...

A Graça é escultora da palavra, que é bela e eu admiro, leio muitas vezes, nem sempre deixando comentário, por vezes fico sem palavras. Admiro-a! Um beijinho, saúde.

Maria Rodrigues disse...

Profundo, sentido e belíssimo poema.
Parabéns pelos 32 anos do seu primeiro livro.
Beijinhos

A.S. disse...

Maravilhoso poema Graça.
A boa poesia não tem idade. Permanece no tempo. Incólume!

Uma boa semana minha amiga, com muita saúde.
Um beijo!

teresadias disse...

Parabéns Graça, pelo 32º aniversário deste belo poema e de todos os outros contidos no teu primeiro livro.
A destreza com as palavras e a refinada sensibilidade poética já estavam lá. És uma poeta extraordinária, querida amiga.
Beijo, cuida-te bem.
(A foto da Ana é lindíssima!)

Arthur Claro disse...

Linda poesia, meus parabéns pela criatividade.

Arthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com

alberto bertow marabello disse...

Quindi sono almeno 32 anni che sei vento, amica Poetisa, mica poco.
Grazie di tutto questo lavoro.
Un abbraccio

Agostinho disse...

Um poema marcado pela poética distinta, segura, sensivel no sentido próprio de cada palavra. Desde o princípio de tudo, na interioridade marcou fronteiras indistintas
sejam quilhas ou fendas, ombros ou côncavos.
Muito bom, Amiga Graça Pires
Beijo.

Jaime Portela disse...

Gostei de reler o seu brilhante poema.
Aproveito para lhe desejar a continuação de uma boa semana, amiga Graça.
Beijo.

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

Qué bien recoge la melancolía, tan interior, tan de adentro que lastima, que no deja espaio para el sentimiento externo. Un abrazo. carlos

Ana Freire disse...

Um poema muito belo, profundo e introspectivo!
Muitos parabéns, Graça, por esta data tão marcante... tanto para a autora... como para os seus leitores! Pois marca o início de uma bela jornada, a um universo poético de pura sensibilidade, e mil emoções... como só a Graça o sabe desvendar para nós, através de tão profundos sentires! E que o tempo, nos possa desvendar ainda muitos mais trabalhos seus, Graça!...
Um beijinho grande! Votos de continuação de uma feliz e inspirada semana, com saúde!
Tudo de bom!
Ana

Pedro Luso de Carvalho disse...

Neste seu primeiro livro, Poemas, agora já com 22 anos após sua edição,
sem dúvida deve ser motivo de orgulho para a amiga poeta, que tão bem
representa Portugal.
Uma boa semana, amiga Graça, com saúde.
Um beijo.

Parapeito disse...

Olá doce Graça*
Parabéns pelos 32 anos do seu primeiro livro.
Uma maravilha que perdura no tempo.
Abraço e brisas doces **

Teresa Durães disse...

Escreveu este poema aos 32 anos? Que melancolia! Bom, todos temos esses momentos e o poema é belíssimo!

Mário Margaride disse...

Boa tarde, amiga Graça,
Passando por aqui, para desejar um feliz fim de semana, com muita saúde.
Beijinhos!

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Emília Pinto disse...

Há 32 anos escreveste este poema onde deixas a nu o teu interior e tenho a certeza que, passado todo este tempo, as emoções pouco se alteraram. Há momentos em que nos sentimos assim, isolados na nossa melancolia, porque somos humanos e a vida nem sempre nos sorri, como gostariamos. Há um mundo à nossa volta e, se temos alguma humanidade dentro de nós, não podemos ficar indiferentes. Temos as nossas dores, preocupações, inquietudes e tantas vezes as lágrimas inundam o nosso rosto, lavando-nos a alma, aliviando o sofrimento. É bom deixar cair as lágrimas que afloram aos nossos olhos... E depois, Amiga Graça, há horrores externos que nos afligem e que nos impedem de admirar as belezas da natureza, com as suas águas, ora calmas, ora tempestivas, os ventos fortes, as brisas amenas permitindo que os barcos naveguem a seu bel prazer nas aguas dos rios. São assim e assim ontinuarão a ser as nossas interioridades , sempre dependentes das exterioridades que nos cercam. Parabéns, Amiga, pelos 32 anos da tua vida poética e pela bela poesia que continuas a fazer. Maravilha, esta foto! Obrigada, Graça e desejo saúde a todos vós. Um beijinho
Emilia

Anete disse...

Tanto a foto como o poema, ambos profundos, assim como é o olhar e conhecer o nosso interior.
A vida é um constante refletir, sentir e decidir.
Já há 32 anos o lindo poema nasceu?!
Bjs

Duarte disse...

Trinta e dois anos não são nada quando o dominio do verso tem a qualidade que imprimes naquilo que expressas. Gosto, e muito. Uma sensibilidade que emociona. Obrigado.
Abraço de vida, querida amiga.

... disse...

Brilhante poema, te deseo um feliz fim de semana.

Flor disse...

Continua a ser maravilhoso. Muitos parabéns Graça. Beijinho💗

Teresa Almeida disse...

Querida Graça, este é um excelente poema. Antigo e sempre novo.
É claro que entrei e li vários poemas de enorme intensidade. És uma poetisa que nos sorve.
Um beijo.

Majo Dutra disse...

Uma interioridade bem sofrida...

Um poema belo e tocante.

Já tinha reparado na Wikipedia que começou a publicar já na idade adulta...
Parabéns pela distinção que obteve em 1 988 e à filha pela foto.
Despedindo-me por um tempo, deixo um beijo já saudoso.
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